Ana Rita Silva fez-nos chegar a história de Augusto Pires, irmão do seu bisavô, movida pela vontade de preservar a memória desse seu familiar.
Filho de José Pires e de Maria do Rosário, Augusto Pires nasceu em 1896 na aldeia de Casais Monizes, freguesia de Alcobertas, concelho de Rio Maior. Foi mobilizado e embarcou em Lisboa para França, em 17 de Novembro 1917, tendo sido colocado no Regimento de Infantaria 11 em 28 de Dezembro de 1917. No dia 1 de Janeiro de 1918, passou ao Regimento de Infantaria 17.
O Regimento de Infantaria 17 estava estacionado no sub-sector português de Ferme du Bois, pelo que Augusto Pires participou na batalha de La Lys, no dia 9 de Abril de 1918, numa zona profundamente afectada pelo ataque alemão. Muitos homens de Infantaria 17 morreram, tendo muitos outros sido feitos prisioneiros. O facto de, dos oficiais do regimento, apenas um ter sobrevivido dá uma ideia da dimensão da catástrofe.
Durante a batalha, Augusto Pires foi vítima de um ataque de gás, que um outro combatente, natural de uma terra vizinha, testemunhou e viria a relatar à família. Com a pressa de escapar ao ataque, Augusto Pires e outros soldados tiraram as máscaras para conseguirem fugir mais depressa. Na fuga, o tio-bisavô de Ana Rita Silva terá então visto o companheiro que era da sua região, dizendo-lhe “Adeus que já não nos voltamos a ver”.
A retirada das máscaras seria fatal. Hospitalizado no dia 14 de Abril de 1918, foi julgado incapaz de todo o serviço a 1 de Maio. Alguns dias depois, a 10 de Maio, embarcava para Lisboa, onde chegou no dia 17. O seu rápido regresso parece confirmar que foi fortemente gaseado, como indica o relato do seu conterrâneo. No dia 12 de Julho de 1918, com 22 anos, falecia no Hospital Militar de Campolide, vítima de pleurisia tuberculosa, de acordo com a sua ficha militar. Tratava-se de um processo de deterioração pulmonar veloz, incurável. Foi sepultado no cemitério de Benfica, em coval desconhecido.
De Augusto Pires ficou apenas uma foto que foi guardada com carinho pelos irmãos, actualmente na posse de Manuel Pires Silva. Ana Rita Silva quis que esta história se tornasse pública para que não se perdesse. Para si, a melhor homenagem que pode ser feita aos homens que morreram pelo país é não deixar que caiam no esquecimento.
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