Do seu percurso na Grande Guerra pouco se sabia. O seu neto, João Sousa e Menezes, desconhecendo os passos dados pelo seu avô em França, pediu-nos ajuda para descobrir um pouco mais. Na família sempre correram algumas histórias e memórias. Sabia-se que tinha comandado homens. Sabia-se que tinha sido louvado e medalhado, pois as condecorações permaneciam ainda no seu da família. E dizia-se que João Malheiro não tinha voltado igual a si mesmo. Vinha diferente, corria na memória familiar. Por confirmar permanece o facto de ter pertencido ao grupo de soldados e oficiais que desfilaram em Paris, nos Campos Elísios, no Desfile da Vitória. Seja como for, a guerra tinha deixado marcas, que paradas e festas já não conseguiam apagar.
João Malheiro de Sousa Menezes partiu para França em 20 de Janeiro de 1917. Pertencia ao Regimento de Artilharia 2, à primeira bateria do 1º Grupo de Baterias e Morteiros. Era alferes, vinha de Viana do Castelo, e era filho de José Malheiro de Sousa e Menezes e de Rosa Pereira de Castro Malheiro.
O seu percurso foi normal até 9 de Abril. As licenças normais, se referências de maior. Contudo, a 9 de Abril será louvado pelos seus actos de bravura durante os eventos daquele fatídico dia. Refere a sua ficha: «Louvado porque no dia 9 de Abril último deu provas de muita serenidade, coragem e competência na fiscalização do serviço da sua bateria durante o fogo, depois da morte do comandante da mesma, conseguindo manter a mais completa disciplina.».
Corajoso, João Malheiro dominou os homens e o seu medo, debaixo de fogo e com a recente perda do seu comandante, por forma a cumprirem todos o seu papel, numa batalha onde tantos perecera e tantos foram feitos prisioneiros. O preço a pagar seria o da sua própria saúde. Provavelmente gaseado, o que explica que nunca mais teria sido o mesmo, para si e para a sua família, encontramos a referência clara a que necessitou ser internado no Hospital de Base, para tratamento, a 8 de Junho de 1918. Teve alta 4 dias depois, mas os médicos entenderam que não mais podia prestar o seu papel, de forma condigna, sem tratamento, decretando uma licença de 50 dias, para que viesse a Portugal tratar da sua saúde.
João Malheiro assim fez. Tornado Tenente a 20 de Julho de 1918, foi já durante essa licença esteve presente em junta médica de inspecção no Hospital Militar de Lisboa, a 12 de Agosto de 1918. Nessa junta foi comprovada a necessidade de cuidados, de repouso e de tratamento. Sem nunca termos referencias ao problema que apr4esentava, que o debilitava, foram-lhe somados mais 50 dias de licença, a qual devia gozar em Portugal. Desta forma, não maios voltaria a França nem ao combate. José Malheiro de Sousa e Menezes, alferes promovido a tenente, medalhado e louvado, tinha sido apanhado pelo horror da guerra e pelo 9 de Abril de 1918. Tinha já prestado o seu serviço para com a pátria. Serviço esse que lhe ficaria marcado, para sempre, no corpo e na alma.
Comentários