Rosarinho Rodrigues recebeu da sua sogra um espólio que se revelou de enorme significado, demonstrativo do carinho entre uma mãe e um filho, um laço que não foi quebrado pela guerra até ao dia em que o mesmo faleceu, encontrando-se ainda enterrado em terras de França, no cemitério português de Richebourg.
Este espólio, do qual mostramos apenas uma pequena parte, é constituído por centenas de postais enviados pelo seu tio, Eduardo da Fonseca Guerreiro de França, para onde foi combater com o Corpo Expedicionário Português. Natural de Tavira, Eduardo era filho de Zacarias José Guerreiro, Governador Civil do Distrito de Faro em 1911 e Presidente da Câmara Municipal de Tavira entre 1914 e 1917.
Embarcou para França como alferes miliciano, distinguindo-se em combate pela sua valentia, receberia uma condecoração e a promoção a tenente. Morreu em combate, a 9 de Abril de 1918, quando uma granada caiu dentro da trincheira onde se encontrava e ceifando-lhe a vida. Ficou sepultado em França e a família terá recebido um botão e um bocado da sua farda para guardar como lembrança. Uma fotografia sua e outros materiais podem ser encontrados no Museu Arqueológico Lapidar Infante D. Henrique, em Faro, doados por familiares.
Contudo, os postais continuam com a família, constituindo um repositório magnífico do que podia ser adquirido à época, maravilhosamente conservado, e espelhando as preocupações, as reflexões, do próprio combatente, que, de forma mais ou menos subtil, fazia saber à sua mãe como estava e quais os seus pensamentos e emoções.
As memórias do que na guerra se passou permaneceram, entretanto, esquecidas no tempo. Seu irmão do meio, pai da actual matriarca da família, não terá sido enviado a França porque tinha perdido a vista num acidente de caça. O irmão mais velho, médico, combateu no conflito e foi feito prisioneiro. Eduardo da Fonseca Guerreiro faleceu… As memórias calaram-se porque o sofrimento era demasiado forte e as recordações avivavam-no. Contudo, hoje podemos mostrar estes magníficos postais, fruto do amor que Eduardo devotava à mãe, porque, em meio ao silêncio, foram sendo preservados.
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