Com o deflagrar da Grande Guerra, em Agosto de 1914, regressam a Portugal escritores e artistas que irão agitar o meio cultural do país e iniciar a aventura modernista. Na pintura o caso mais notável é Amadeo de Sousa Cardoso, vindo de Paris, que se instala na quinta familiar perto de Amarante e realiza a partir de 1916 uma série de obras inovadoras que o colocam na vanguarda da arte internacional. As exposições que realiza no Porto e em Lisboa são “a primeira descoberta de Portugal no século XX”, como defendeu Almada Negreiros num célebre manifesto.
Em 1915, fugindo à guerra, chegam a Portugal o casal de artistas Robert e Sonia Delaunay, novo acontecimento capital para a arte moderna portuguesa. Juntamente com Eduardo Viana, outro dos retornados de Paris, residem em Vila do Conde e em Valença, onde descobrem a arte popular minhota e executam inúmeras pinturas de mercados, naturezas-mortas e artesanato transfigurados pelos célebres círculos primáticos de cor, imagens que são das mais originais inspiradas pela cultura popular nacional. A associação que planeiam com os artistas portugueses, a Corporation Nouvelle, com um projecto de exposições internacionais itinerantes, foi por fim irrealizável numa Europa em guerra.
Refira-se ainda a vinda da célebre companhia de dança Ballets Russes, proporcionada pelos anos da guerra, para onze récitas no Coliseu e no Teatro São Carlos em Dezembro de 1917. Actuando numa capital agitada pela revolução sidonista, a companhia de Diaghilev deixou reconhecidas sequelas na evolução da dança portuguesa.
Com a mobilização do CEP para a frente ocidental embarcam alguns combatentes que realizaram uma obra plástica de relevo, com destaque para Cristiano Cruz, o artista mais promissor dos salões dos humoristas de 1912-13, que realiza em França uma pequena série de pinturas a guache inéditas na sua violência gráfica expressionista. Outros militares, como José Joaquim Ramos e João Meneses Ferreira, registaram plasticamente a presença em África e na Flandres, mas a obra mais relevante deve-se ao capitão do serviço artístico do CEP, Adriano de Sousa Lopes, que realizou pinturas monumentais e uma notável série de gravuras a água-forte fundamentais para a arte portuguesa dos anos da guerra.
Carlos Silveira (IHA - UNL)
Cite como: Carlos Silveira, "A Arte em tempo de Guerra", A Guerra de 1914 - 1918, www.portugal1914.org
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