O mundo teve, até hoje, muitos conflitos, contendas e intervenientes. Razão pela qual os países que já passaram por guerras de grandes proporções, locais ou mundiais, criaram uma forma de homenagear os seus combatentes, em particular os que perderam a vida e não possuíram enterro condigno, identificação ou paradeiro conhecido para os seus restos mortais. E dessa forma surgiram os denominados Monumentos ao Soldado Desconhecido.
Na realidade, a tradição moderna do enterramento de um soldado desconhecido, o militar anónimo representativo de todos os que, como ele, faleceram num conflito bélico, inicia-se no ano de 1920, na Grã – Bretanha e na França. Depois da Primeira Guerra Mundial, num memorialismo pós – guerra que pretendia unir a sociedade e sarar feridas relacionadas com o conflito, foi a enterrar na Abadia de Westminster em Londres, um combatente sem nome. Em França, o Arco do Triunfo receberia um caído no “Campo da Honra”, tal como foi decretado pelo próprio Parlamento. E, seguindo o exemplo britânico e francês, Portugal pensou então na sua própria homenagem aos que lutaram e perderam a vida na Grande Guerra.
Para local de celebração e memória escolheu-se o Mosteiro de Santa Maria da Vitória, mais conhecido como Mosteiro da Batalha, mandado edificar por D. João I em agradecimento à Virgem Maria pela sua vitória na Batalha de Aljubarrota. Não existia um melhor lugar para, sob a protecção da Virgem, receber os soldados que se tornariam símbolo dos que caíram na Grande Guerra. Dois tempos diferentes unidos por um mesmo desejo de recordação. A Grande Guerra era outro conflito, viviam-se outros tempos, mas a participação portuguesa nesta grande conflagração era um acontecimento igualmente importante e representativo para a História da Nação.
Assim, seria na Batalha que se construiria o monumento que consagraria não um mas dois soldados, provenientes da Europa e da África Portuguesa. Tal foi decretado a 18 de Março de 1921 pelo Governo Português, o qual autorizou a inumação e trasladação dos corpos. O dia escolhido para iniciar a homenagem foi o de 9 de Abril, data igualmente simbólica, dia que relembrava a funesta Batalha de La Lys, onde tantos militares portugueses tinham perecido. O dia foi decretado Feriado Nacional. Os corpos de ambos os soldados desconhecidos foram transportados solenemente por Lisboa e partiram da Capital até Leiria ainda no dia 9 de Abril de 1921. No dia seguinte o trajecto prosseguiu, entre Leiria e a Batalha, sendo recebidos pelo troar dos canhões e por uma enorme multidão. Os seus ataúdes foram então transportados para o local de repouso eterno. Ainda hoje se encontram sob a abóbada da Casa do Capítulo, com a presença constante de uma “Chama Eterna”, proveniente do Lampandário Monumental elaborado por Lourenço Chaves, com Guarda de Honra permanente e sob a protecção do mutilado mas belo, “Cristo das Trincheiras”.
Margarida Portela (IHC)
Cite como: Margarida Portela, "Portugal e os Soldados Desconhecidos da Grande Guerra", A Guerra de 1914 - 1918, www.portugal1914.org
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