Durante a I Guerra Mundial os transportes desempenharam um papel estratégico fundamental no esforço de guerra. Para além da sua tradicional função económica e social, intimamente associada às redes nacionais e internacionais de comunicação e comércio, os transportes marítimos e terrestres, associados a um transporte aéreo emergente, funcionariam como instrumentos privilegiados na mobilização e transporte de soldados, no transporte de material militar e no abastecimento dos contingentes militares e das populações nas zonas de conflito.
Em Portugal, o impacto da guerra sentiu-se, desde logo, no transporte marítimo. Começou por agravar algumas das maiores fragilidades do sector, manifestas numa tonelagem insuficiente e na inexistência de uma marinha mercante nacional. Assim, a dependência portuguesa face à Royal Navy aumentaria progressivamente, quer na obtenção de bens de consumo essenciais, como matérias-primas e bens de primeira necessidade, o que contribuiria para o agravamento da questão dos abastecimentos, quer no transporte de tropas para as frentes africana e europeia. Com a requisição dos navios alemães surtos nos portos portugueses, em 1916, procurou-se organizar um serviço de transportes marítimos do estado, que acabaria por não vingar.
A contracção do comércio internacional e a crise do transporte marítimo acabariam por pressionar fortemente o mercado interno e o principal meio de transporte terrestre, o caminho-de-ferro. Refém da grave crise de combustíveis, de uma conflitualidade laboral crescente e das requisições militares, as diferentes companhias ferroviárias nacionais e os Caminhos-de-ferro do Estado enfrentaram grandes desafios para manter a circulação regular de passageiros e mercadorias, aumentando sucessivamente as tarifas praticadas, sob a tutela protectora do Estado, e buscando novos mercados para a importação de combustíveis fósseis, para além do recurso ao carvão vegetal nacional e da discussão sobre as potencialidades da electrificação das linhas, com o recurso à chamada hulha branca.
Relativamente ao transporte aéreo, a I Guerra Mundial foi essencial para a introdução da aviação no País, sobretudo a de carácter militar. A Escola de Aeronáutica Militar, criada em 1914, só começaria a funcionar efectivamente no ano de 1916, numa altura em que já se haviam enviado ao estrangeiro os primeiros militares portugueses para se especializarem na área. O Corpo Expedicionário Português chegaria a contemplar uma secção de aviação que, não obstante, seria desmobilizada durante o Sidonismo.
Ângela Salgueiro (IHC)
Cite como: Ângela Salgueiro, "Os Transportes", A Guerra de 1914 - 1918, www.portugal1914.org
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