Os transportes

Chegada ao cais de Alcântara de um transporte de tropas. Joshua Benoliel, Ilustração Portuguesa, série II, nº. 577, Lisboa, 12 de Março de 1917, p. 214. Chegada ao cais de Alcântara de um transporte de tropas. Joshua Benoliel, Ilustração Portuguesa, série II, nº. 577, Lisboa, 12 de Março de 1917, p. 214.
 
Durante a I Guerra Mundial os transportes desempenharam um papel estratégico fundamental no esforço de guerra. Para além da sua tradicional função económica e social, intimamente associada às redes nacionais e internacionais de comunicação e comércio, os transportes marítimos e terrestres, associados a um transporte aéreo emergente, funcionariam como instrumentos privilegiados na mobilização e transporte de soldados, no transporte de material militar e no abastecimento dos contingentes militares e das populações nas zonas de conflito.
 
Em Portugal, o impacto da guerra sentiu-se, desde logo, no transporte marítimo. Começou por agravar algumas das maiores fragilidades do sector, manifestas numa tonelagem insuficiente e na inexistência de uma marinha mercante nacional. Assim, a dependência portuguesa face à Royal Navy aumentaria progressivamente, quer na obtenção de bens de consumo essenciais, como matérias-primas e bens de primeira necessidade, o que contribuiria para o agravamento da questão dos abastecimentos, quer no transporte de tropas para as frentes africana e europeia. Com a requisição dos navios alemães surtos nos portos portugueses, em 1916, procurou-se organizar um serviço de transportes marítimos do estado, que acabaria por não vingar.
 
A contracção do comércio internacional e a crise do transporte marítimo acabariam por pressionar fortemente o mercado interno e o principal meio de transporte terrestre, o caminho-de-ferro. Refém da grave crise de combustíveis, de uma conflitualidade laboral crescente e das requisições militares, as diferentes companhias ferroviárias nacionais e os Caminhos-de-ferro do Estado enfrentaram grandes desafios para manter a circulação regular de passageiros e mercadorias, aumentando sucessivamente as tarifas praticadas, sob a tutela protectora do Estado, e buscando novos mercados para a importação de combustíveis fósseis, para além do recurso ao carvão vegetal nacional e da discussão sobre as potencialidades da electrificação das linhas, com o recurso à chamada hulha branca.
 
Relativamente ao transporte aéreo, a I Guerra Mundial foi essencial para a introdução da aviação no País, sobretudo a de carácter militar. A Escola de Aeronáutica Militar, criada em 1914, só começaria a funcionar efectivamente no ano de 1916, numa altura em que já se haviam enviado ao estrangeiro os primeiros militares portugueses para se especializarem na área. O Corpo Expedicionário Português chegaria a contemplar uma secção de aviação que, não obstante, seria desmobilizada durante o Sidonismo.
 
Ângela Salgueiro (IHC)
 
Cite como: Ângela Salgueiro, "Os Transportes", A Guerra de 1914 - 1918, www.portugal1914.org

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