Quadras e memórias vagas, que chegaram a Sofia Alexandra Pinheiro de Almeida, através de sua mãe, foram das poucas lembranças que restaram dos irmãos Custódio e Eduardo e das suas vidas, durante e depois da Grande Guerra. Descontente com o pouco que sabia, Sofia empreendeu uma viagem de procura de conhecimento que a levaria a vasculhar arquivos e consultar livros de recenseamento, com um único objectivo: o do autoconhecimento, por forma a saber mais destes seus familiares e compreender a história familiar, que sempre lhe pareceu demasiado vaga e desprovida de pormenores.

Ao descobrir uma fotografia do seu avô, bem como alguns poucos dados sobre o seu percurso como jovem militar, Ana Luísa Alves desde logo se questionou se o seu bisavô estivera na Grande Guerra. Tendo descoberto que não, pese embora Joaquim tenha serviço no Hospital Militar da Figueira da Foz durante a guerra, esta história demonstra a sua procura, o seu orgulho e a sua descoberta, recordando-nos a memória daqueles que por cá ficaram, cumprindo o seu dever para com o país que os mobilizara. 

Estava-se em plena primeira Guerra Mundial. Os tempos iam difíceis, mesmo muito maus. Na aldeia havia tristeza – só lá ficaram os velhos, as mulheres, moças casadoiras e crianças, chorando os jovens e robustos camponeses que tinham partido para França onde, juntamente aos Aliados, combatiam a Alemanha. As enxadas foram trocadas pelas armas e as mãos calejadas desses tão bravos em campo de lavoura como em campo de batalha, abandonaram-nas no palheiro, onde os pobres guardavam as poucas e rudimentares ferramentas de trabalho que possuíam.   

Uma mãe inquieta, com dois filhos na Grande Guerra, promete a S. Bento um sino, que tocaria pelos que se perderam no conflito e pelos que regressaram dele sãos e salvos. Com o seu sofrimento entregue nas mãos do santo, vê os filhos regressarem, tendo assim que cumprir a sua promessa. Não sem algumas atribulações que, apesar de tudo, são responsáveis pelo sino que ainda hoje toca na Casa da Forja. 

Homens, mulheres e crianças que trabalhavam em 1918 na fábrica de munições de Arroios em fotografia de grupo. À direita um exemplo das munições que fabricavam.

O que podia ser um documento qualquer, rabiscado, com um título curto, chamado «biografia», revela-se o testemunho de um não combatente que perdeu um irmão querido na guerra. Zacarias Guerreiro, que por ter perdido uma vista não foi à Grande Guerra, acabaria por ver um dos seus irmãos feito prisioneiro e outro perecer na Batalha de La Lys.