Conta-nos Manuel Miranda, cujo avô e tio-avô combateram na Grande Guerra, que em 1913 os dois mancebos partiram, junto com outros jovens de Covêlo do Geres, para prestarem serviço militar, o qual os levaria à guerra em África e em França. Deixaram a casa dos seus pais no mesmo dia e a mãe, Carolina Rosa Gonçalves, ao saber que eles partiriam para a guerra, lá longe, e com o coração partido e cheio de receio, prometeu a construção e colocação de um sino na povoação, caso S. Bento os fizesse regressar da guerra sãos e salvos.
S. Bento, dizia ela, ouviu as suas preces de mãe aflita, e ambos voltaram, sem danos de guerra aparentes.
Domingos Lopes Pereira era um desses rapazes. Regressou depois do seu irmão (vide O regresso a casa de Manuel Lopes Pereira), quando começavam já a temer por falta de notícias suas. Domingos tinha embarcado para frança em 22 de Abril de 1917, de onde só regressou em 20 de Março de 1918, data do seu desembarque em Lisboa. Regressou à sua aldeia mal obteve licença para tal... Teve uma relação por essa altura com uma senhora chamada Zulmira, pertencente à Casa do Souto, em Covelo, do qual teve a sua única filha, Albertina, falecidas não muitos anos depois em Lisboa. Mas Domingos, talvez irrequieto da guerra, talvez da vida que então levava, sonhou mais alto e mais longe, e decidiu-se a partir para o Brasil, embarcando em novas aventuras em meados de 1921. Ali casou, às vésperas da sua morte, com Beatriz Borges, a 30 de Março de 1931. Faleceu a 28 de Abril de 1931, na Rua do Livramento, Rio de Janeiro, sem deixar descendência conhecida.
Na opinião da sua mãe, ele e o seu irmão, que tiveram percursos de vida totalmente diferentes, só os poderiam ter vivido com a protecção de S. Bento durante a guerra. Assim, depois da chegada dos rapazes, e das festas pelo seu retorno sãos e salvos, era hora de cumprir a promessa, apesar de que todo o dinheiro que tinham não chegar para pagar o sino prometido. Para isso venderam um lameiro no Alto da Lomba e mandaram então fazê-lo. Uma vez concluído, este devia ser transportado para a terra, e colocado na igreja, mas quando se foi ver, era demasiado grande, e não entrava no campanário. O milagre tinha que ser anunciado, dizia a familia. Era o regresso dos filhos da casa da Forja que devia ser anunciado como divida a S. Bento.
Assim, reza a história familiar que se mandou rachar um carvalho ao meio e montar uma estrutura de madeira para pendurar o sino, para poder ouvi-lo tocar. E ele ali terá ficado anos, até que a madeira, já carcomida pelo tempo, cedeu e o sino caiu. Ao cair danificou-se e partiu-se, ficando intocável, razão pela qual foi então vendido.
Manuel Miranda, que vive fora de Portugal mas queria saber mais sobre a vida da sua familia e sobre esta história da sua família, tendo vindo à terra, numa da suas visitas, foi falar com uma testemunha do sucedido, Sr. Belmiro Dias, da casa da Ramada, que lhe disse que ele próprio teria recebido os restos do sino, sendo que se mandou fazer um novo, agora no nicho. Mas a promessa já estava paga. Paga ao santo que protegeria, segundo a mãe de Manuel Miranda, uma vez mais a família de uma desgraça de guerra, quando ela prometeu que caminharia da barragem dos Pisões a S. Bento da Porta Aberta no Geres, a pé, se Deus e S. Bento o protegessem na Guerra da Ultramar.
Guerras e depoimentos que se cruzam... As mesmas dores de uma mãe em aflição pela vida dos seus filhos. Promessas de fé similares, tantos anos depois, motivadas pelo medo da perda e pelo medo profundo que a guerra, a horrível guerra, sempre nos inflige.
Assim, reza a história familiar que se mandou rachar um carvalho ao meio e montar uma estrutura de madeira para pendurar o sino, para poder ouvi-lo tocar. E ele ali terá ficado anos, até que a madeira, já carcomida pelo tempo, cedeu e o sino caiu. Ao cair danificou-se e partiu-se, ficando intocável, razão pela qual foi então vendido.
Manuel Miranda, que vive fora de Portugal mas queria saber mais sobre a vida da sua familia e sobre esta história da sua família, tendo vindo à terra, numa da suas visitas, foi falar com uma testemunha do sucedido, Sr. Belmiro Dias, da casa da Ramada, que lhe disse que ele próprio teria recebido os restos do sino, sendo que se mandou fazer um novo, agora no nicho. Mas a promessa já estava paga. Paga ao santo que protegeria, segundo a mãe de Manuel Miranda, uma vez mais a família de uma desgraça de guerra, quando ela prometeu que caminharia da barragem dos Pisões a S. Bento da Porta Aberta no Geres, a pé, se Deus e S. Bento o protegessem na Guerra da Ultramar.
Guerras e depoimentos que se cruzam... As mesmas dores de uma mãe em aflição pela vida dos seus filhos. Promessas de fé similares, tantos anos depois, motivadas pelo medo da perda e pelo medo profundo que a guerra, a horrível guerra, sempre nos inflige.
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