A memória de Joaquim Alves Correia de Araújo, médico em África durante a Grande Guerra

Joaquim Alves Correia de Araújo era o segundo filho dos oito de Manuel Alves Correia de Araújo e de Bambina Amélia Machado d’Araújo, proprietários rurais de Requião, concelho de Vila Nova de Famalicão. Tal como com os outros filhos, Manuel e Bambina proporcionaram-lhe uma educação esmerada, tendo o mesmo iniciado o estudo das primeiras letras na escola da freguesia. Dali seguiria para o liceu de Guimarães, e a partir do sexto ano, frequentaria o Liceu Nacional Central de Braga, onde completou os seus estudos liceais com uma média final de 12 valores.
Logo depois Joaquim Alves decidiu matricular-se no primeiro ano de Medicina, e para tal escolheu fazê-lo na recém-criada Faculdade de Medicina do Porto, que substituiu a Escola Médico Cirúrgica ali estabelecida pela reforma educativa de Passos Manuel em 1836. Denote-se a curiosidade encontrada por Teresa Alves de que, dos cento e catorze colegas inscritos no curso de Medicina, colegas de seu tio-avô no ano lectivo de 1911-12, apenas cinco eram mulheres. 
Teresa Araújo desconhece o motivo que terá levado o seu tio-avô à Medicina, pensando-se que poderá ter sido por influência de seu tio materno João Machado d’Araújo, que terminou medicina na Escola Médico Cirúrgica do Porto em 1894. A única certeza que tem, e assim é porque existem as provas documentais que o atestam, é que no ano de lectivo de 1915-16 Joaquim Alves estava já no seu quinto ano, e defenderia em 23 de fevereiro de 1917, à época já mobilizado com a 1ª divisão de Lisboa, a tese “O método de Carrel e o soluto de Dakin no tratamento das feridas infetadas”, como surge referenciado no Jornal Gazeta de Famalicão de 24 de Fevereiro de 1917.
A própria sobrinha – neta refere que não deixam de ser curiosas as breves palavras que escreve no preambulo da sua tese, respeitantes à mobilização de jovens médicos, pois afirma que, mesmo sem defenderem a tese de final do curso (sem a qual não podiam exercer clinica médica civilmente, tal não constituía, impeditivo para o exercício de clinica militar, algo que considerava no mínimo um paradoxo. 
Já médico, com a sua tese defendida, Joaquim Alves tirará uma foto, envergando o seu dólman de serviço, no Porto, mais propriamente na Foto Universal, na rua de Cedofeita, para deixá-la para a posteridade, como acontecia na época, e igualmente para oferecer aos seus familiares e amigos. Estava pronto para partir, o que acabaria por suceder nos meses seguintes, como nos relatam os jornais da época. E é a bordo do vapor “Portugal” que o jovem médico, agora alferes médico na Grande guerra, seguirá para Moçambique, acompanhando o contingente de infantaria 31 e chegando à cidade da Beira em finais de Maio de 1917. 
Foi nomeado médico da coluna dos “Macondes” sob comando do Tenente Coronel José da Cunha e do Major Neutel d’Abreu, serviço que desempenhou durante um ano, sediado no posto de Chomba, local onde se fixara o Hospital de Sangue. Mudar-se-ia depois para o Hospital dos Combatentes na ilha de Xefina, na baía de Lourenço Marques, onde existe a referência familiar, repositório das suas próprias memórias, de que teria manipulado e usado um remédio da sua autoria, que dizia ter obtido resultados excepcionais na luta contra a febre biliosa, conseguindo-se assim diminuir o número de mortes causadas por esta patologia. Por ali se demorou largos meses, até ao termo do conflito, regressando depois e de forma definitiva a Portugal, a bordo do “Quelimane”, corria o mês de Novembro de 1918. Disso se apercebeu Teresa Araújo, que consultou os jornais locais que referem mesmo a “boa aparência” do jovem médico ao regressar á pátria. 
Aquando da sua chegada a Lisboa teve uma nomeação imediata para médico do Regimento de Sapadores do Caminho-de-Ferro, funções que viria a acumular com os serviços médicos prestados no Hospital Militar da Estrela. Em 1922 foi ainda promovido a capitão - médico. Depois de uma temporada no sul, pediu a sua transferência para o Segundo Grupo de Companhias de Sapadores do Caminho de Ferro, sediado em Santo Tirso, onde serviu até 1937, ano em que teve lugar a reorganização do exército que deu por extinto aquele grupo de sapadores de caminhos-de-ferro naquela vila. Joaquim Alves terá então requerido a sua passagem à reserva, a qual lhe foi concedida. Todavia, continuará na ser médico, e a trabalhar no Hospital Militar do Porto, onde se manteve até 1947. A reserva nunca significou que não prestaria serviço activo. Joaquim Alves continuou a trabalhar até que, naquele ano, uma Junta Militar o considerou incapaz para o serviço militar, sendo presente à Junta Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, para efeitos de aposentação. Todavia, esta considerou-o em condições de continuar na reserva, prestando serviço nas Juntas de Inspecção de Recrutamento.
A Grande Guerra e a sua presença na mesma nunca foi esquecida por Joaquim Alves, o que é atestado pelo seu papel de grande organizador na Liga dos Combatentes da Grande Guerra no concelho famalicense. Ali, chegou a ser presidente da sua comissão administrativa, desde a sua fundação, a 12 de Dezembro de 1934, até finais da década de 1940. A Guerra tinha deixado as suas marcas. Hoje, recordamos assim, pelas palavras e pelo trabalho de investigação de Teresa Araújo, a presença na mesma deste interveniente no conflito, não como combatente, mas como médico, salvando vidas na África Oriental. 

Informação Adicional

Autor - Relator
Margarida Portela
Testemunha - Contador
Teresa Araújo

Intervenientes

 

Nome
Joaquim Alves Correia de Araújo
Cargo
Médico Militar

Teatros de Guerra

 

Teatros de Guerra
África

Mais informações

 

Região
Moçambique
Local
Beira e Lourenço Marques
Data do início da história
1917
Data do fim da história
1919

Direitos e Divulgação

 

Entidade detentora de direitos
Instituto de Historia Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova Lisboa – Portugal
Tipo de direitos
Todos os direitos reservados
Link para acesso externo
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