A história de Eurico Cunha Barbeitos da Silva na Grande Guerra e o caso do «sacrificado e infeliz» Regimento de Infantaria nº 7

Eurico Cunha Barbeitos da Silva era tenente e pertencia ao Regimento de Infantaria 7, com o qual partiria para França. Filho de João Barbeitos da Silva e de Augusta Maria Cunha, e casado com Aurora Marques Saraiva de Carvalho, Eurico morava na rua Marquês da Fronteira em Lisboa quando foi mobilizado e enviado para a Frente Ocidental.

Embarcou para França em 25 de Dezembro de 1916, por fazer parte de uma missão de estudo e preparação entre os Ingleses, missão essa em que foi fotografado com os seus outros camaradas (e que pode ser vista aqui).

Em 13 de Agosto de 1917 é promovido a Capitão e passou a fazer parte do Estado-maior de Infantaria. Em 22 de Dezembro de 1917 teve uma Licença de Campanha de 30 dias. Apresentou-se na sua unidade em Janeiro de 1918, para continuar a servir no R.I. 7 como fizera até então.

Todavia, a sua viagem pela Frente Ocidental não seria nem feliz nem fácil. Da sua ficha consta que foi «Ferido por gazes» em 19 de Março de 1918, num mês em que muitos outros, incluindo Jaime Cortesão, viriam a ser vítimas da mesma arma e sofredores do mesmo fim. Assim sendo, gaseado que tinha sido, baixou a uma ambulância nesse mesmo dia e foi evacuado para o Hospital de Sangue nº 1 no dia 20 de Março. Assim mesmo, e provavelmente dado ao seu estado, foi enviado ainda, como evacuado, para o Hospital da Base nº 2 logo no dia seguinte.

Teve alta em 10 de Abril, um dia depois da fatídica batalha de La Lys e quando as coisas ainda estavam confusas e complicadas. Não voltaria ao combate visto que precisava continuar os seus tratamentos naquele mesmo hospital. Também foi visto por uma Junta Médica, corria o dia 16 de Maio de 1918, e esta estipulou que lhe deveriam ser dados 90 dias de convalescença, a qual deveria ser feita em Portugal. A viagem de regresso seria iniciada em 19 daquele mês.

Uma Junta Hospitalar de Inspecção, reunida no Hospital Militar de Lisboa em 6 de Agosto de 1918 consideraria que, ao tempo de convalescença deveriam ser adicionados mais 15 dias, ficando adstrito à 3ª Companhia do Regimento de Infantaria nº 11.

Eurico Cunha Barbeitos da Silva não mais regressaria à frente de batalha. A 11 de Novembro de 1918 o Armistício levaria ao fim da guerra e Portugal começaria a enviar os seus homens de regresso à pátria. De Eurico não sabemos como foi a sua saúde no pós-guerra, e não duvidamos que tenha melhorado mas, como tantos outros homens, combatentes em África ou em França, carregaria com ele as marcas físicas e emocionais de uma guerra que, em todas as frentes e em todos os teatros de operações, feriu, estropiou e matou como nenhuma outra o tinha feito até então.

Dele pouco mais se sabe e pouco ficou, mas uma das fotos, em que está acompanhado por mais oficiais em convalescença, mostra-o em pé, junto dos seus camaradas, pertencentes ao «sacrificado e infeliz» Regimento de Infantaria nº 7. Desconhecemos quem fez a legenda e o que sabia destes homens. Poderá não ter sido Eurico a escrever mas, quem sabe, não a ditou a algum seu familiar. E que estranha - mas tão acertada legenda! - que tanto diz do sacrifício dos soldados portugueses na Grande Guerra.

Informação Adicional

Autor - Relator
Margarida Portela
Testemunha - Contador
Victor Neto

Intervenientes

 

Nome
Eurico Cunha Barbeitos da Silva
Cargo
Capitão

Teatros de Guerra

 

Teatros de Guerra
França

Direitos e Divulgação

 

Entidade detentora de direitos
Instituto de Historia Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova Lisboa – Portugal
Tipo de direitos
Todos os direitos reservados
Link para acesso externo
http://www.portugal1914.org/portal/pt/memorias/historias/item/7909-a-historia-de-eurico-cunha-barbeitos-da-silva-na-grande-guerra-e-o-caso-do-sacrificado-e-infeliz-regimento-de-infantaria-n-7

Objectos Relacionados

Grupo de oficiais do R.I. 7 em Ambleteuse, em convalescença

Eurico Cunha Barbeitos da Silva depois da Grande Guerra

França, Janeiro de 1917 - Uma missão de estudo e preparação portuguesa entre ingleses

Victor Neto, coleccionador e familiar de dois combatentes da Grande Guerra, trouxe à Assembleia da República em Lisboa, nos Dias da Memória, um fenomenal espólio e, entre as diversas fotografias, uma, de grupo, que muito nos intrigou. O que se escondia por detrás do olhar daqueles militares? Descubramos agora mais uma história e memória de homens com diferentes passados unidos num mesmo lugar, tudo por causa da guerra. 

Armando Artur Barbosa da Fonseca Cardoso – uma prova de amizade

Os Dias da Memória trouxeram até nós familiares que foram combatentes ou simples conhecidos de tantos portugueses. Mas trouxeram também provas de amizade, deixadas por outros soldados, aqueles que, não se sabendo hoje quem são, deixaram uma marca na vida dos seus camaradas, que com eles conviveram, com um souvenir, um postal, uma fotografia. Assim sucedeu com Armando Artur, que deixou uma fotografia dedicada ao seu camarada Barbeitos, cujo espólio fotográfico nos foi trazido por Victor Neto na sua visita à Assembleia da República. 

Comentários

Comentar...