Uma pequena pulseira, com «José Maria, 2º Sarg. Inf. 21 3ª Comp CEP» chegou às mãos da equipa dos Dias da Memória e do portal Portugal 1914 trazida por Paulo Rufino... E fez história. Ao analisar a ficha do seu avô, José Maria, entendemos que um pequeno objecto pode, muitas vezes, recordar um grande homem. E este era o caso.
José Maria nasceu em Oliveira do Hospital, filho de António Augusto Ferreira Delgado e Maria Pinto Delgado. Embarcaria para França, como membro integrante do CEP em 21 de Janeiro de 1917, com muitos dos seus camaradas. Era 2º Sargento do Regimento de Infantaria 21 e foi enviado com os seus camaradas para combater num país distante, às ordens do seu país. Honrá-lo-ia com valentia, retornando em Agosto de 1918 com uma licença de campanha, não tendo posteriormente que regressar a França.
O 2º Sargento José Maria cedo seria louvado pela sua valentia. A ficha de combatente é muito explícita. Foi louvado em 4 de Junho de 1917 pela sua valentia, zelo e aptidão, demonstradas quando esteve nas trincheiras. A 9 de Agosto seria mesmo heroico e foi louvado pela forma corajosa e benemérita com que, naquele dia, durante um bombardeamento com granadas ao acantonamento onde se encontrava a sua unidade, arriscou a vida para prestar auxílio a dois soldados feridos, assim como encorajou e aconselhou as praças aterrorizadas pelo mesmo bombardeamento. Conseguira assim manter o ambiente calmo e ordeiro e salvar vidas, pelo que o louvor saiu a 12 de Agosto daquele mesmo ano. José Maria era capaz de actos heróicos, mantendo a calma e o sangue frio face ao perigo.
Nem tudo era guerra na Frente Ocidental. José Maria receberia ainda um louvor especial. Como em tudo o que fazia, mostrou um imenso zelo e cuidado na preparação do carro e arreios do trem regimental que faria parte de um concurso hípico em França. Concursos esses em que os portugueses tendiam a sobressair, pelas suas excelentes prestações, trazendo taças para Portugal, hoje em mãos de outros familiares.
Quando regressou da frente de batalha, voltaria à Covilhã. Então, já desmobilizado, conhece a avó de Paulo Rufino, casando e construindo família. Volvidos alguns anos, tornar-se-ia homem afamado e de grande prestígio na zona, um grande industrial têxtil, mas sempre sentimentalmente arreigado à sua Beira-Alta.
Os pais de Paulo Rufino ainda se recordam que José Maria tinha muito orgulho do seu tempo passado na guerra, apesar de não falar muito nesses tempos. Era no entanto muito crítico acerca da participação portuguesa na mesma, pois dizia que estava o país muito mal preparado militarmente para entrar na Grande Guerra. Assim mesmo, orgulho de cumprir o seu papel era o que sentia. E tanto assim foi que fez questão de ser enterrado com a sua Cruz de Guerra ao peito, o que viria a suceder, cumprindo-se o seu desejo.
Quanto aos dois soldados que salvou, e que lhe mereceram louvor, ao que se sabe ficaram-lhe eternamente gratos. Assim se criavam laços de fidelidade e camaradagem duradouros e eternos que só quem os compartilhava realmente entendia.
Espólios diferentes, histórias distantes. Paulo Rufino procura agora saber mais deste avô e do seu passado mais distante. Contudo, inegável é de que, com uma pequena pulseira de identificação de um combatente, o seu avô, nos recordou um nome, e o percurso de mais um dos nossos valentes combatentes durante a Primeira Guerra Mundial.
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