Hermínia Falcão Valente decidiu partilhar a história de seu tio - avô, rememorando os dados e informações que seu pai e um tio ainda recordavam, trazendo-nos a história de José Bernardino Falcão Ribeiro, combatente em França na Grande Guerra.
Conforme conseguiu apurar, José Bernardino terá nascido em 1896 em Cabeceiras de Basto, e fez o Curso Comercial em Braga, onde estudou francês. Segundo tradição familiar, José Bernardino falava francês com frequência, mesmo antes de partir para França, o que viria a ser preponderante alguns anos depois, durante o conflito.
Do tempo da guerra não existem fotografias. Mas podemos ver um muito jovem José Bernardino, anos antes, em 1915, numa fotografia tirada em Guimarães, a qual oferece a seu tio e restante família. Nesta identifica-se como 1º cabo de infantaria nº 20. Sentado, acompanhado de um camarada, os seus traços são ainda pueris mas mostram já uma grande determinação.
José Bernardino partiria para França já como 2º Sargento. Dadas as suas habilitações e domínio do francês, a família recorda que ele ficaria agregado à manutenção dos víveres e fardamentos das tropas, não tendo participado directamente em nenhum momento do conflito, em particular na Batalha de La Lys. Existe ainda a memória familiar de que teria sido promovido a alferes durante os anos que esteve na Frente Ocidental, pormenor que sua sobrinha-neta procura ainda confirmar.
Fosse como fosse, José Bernardino apaixonou-se durante a sua estadia em França. Enamorado profundamente de uma menina francesa, não regressaria a Portugal, ficando a viver em Aire-sur-la-Lys. Casou-se e teve duas filhas e tornou-se contabilista numa fábrica de produção de acúcar de beterraba no Verão, e tijolo no Inverno. Foi também Presidente da Secção de Ciclismo de Aire-sur-la-Lys, actividade que Hermínia vê confirmada em medalhas que aina hoje persistem, entre outras, que lhe foram dadas pelo Ministère du Travail et de la Sécurité Sociale.
A Portugal voltaria anos depois, já casado com o seu amor, Lucienne, e na companhia das duas filhas do casal, Francette, que sempre viveu em Aire, e Josette, que em adulta se mudou para Paris. A foto familiar deverá corresponder à primeira visita do casal e suas filhas à famíia portuguesa de José Bernardino.
De regresso algumas vezes a Portugal, contaria que, durante a II Guerra Mundial, colocava sempre a bandeira portuguesa à janela, e que por isso não teria sido alvo de pilhagens feitas pelos alemães, como sucedeu com outros habitantes e casas de Aire-sur-la-Lys. No entanto, contava ao seu irmão que teria a dada altura recebido em sua casa alguns oficiais alemães, que ali se estabeleceram, enquanto estiveram naquela região.
José Bernardino viveu e morreu onde tantos outros portugueses tinham vivido, sido capturados e morrido, anos antes, a 9 de Abril de 1918. Faleceu em Aire-sur-la-Lys, deixando já dois netos, Catherine, filha de Francette e Philippe, filho de Josette, que hoje deverá ter cerca de 50 anos, recorda Hermínia Falcão Valente. A sobrinha-neta de José Bernardino recorda-se ainda de ter convivido com ele, passando férias juntos, em família. Contudo, a vida separou a família, não sabendo hoje onde se encontra Philippe, seu primo e neto de seu tio-avô.
Hermínia Falcão Valente procura agora mais informações e mais dados sobre a vida deste seu familiar. Como a sua professora de História diria, para fazer a mesma são necessárias provas e documentos, que ela partilha agora com o nosso projecto, trazendo-nos fotografias e uma medalha de José Bernardino Falcão Ribeiro. O que mais poderá descobrir, não sabe ainda. Mas a procura continua, tal como a procura de tantos outros familiares, agora impulsionada pelo Centenário da Primeira Guerra Mundial.
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