Algo de muito importante acabará por unir profundamente os dois homens que hoje aqui mencionamos. Um local de origem, Figueiró dos Vinhos, onde viveram, constituiram família e deixaram amigos. Em memória de ambos resgatamos agora a história de um soldado da Grande Guerra.
Estejam onde estiverem, que ambos descansem em paz!
(Este artigo recupera os escritos de TóZé Silva e foi elaborado em sua memória, recorrendo a informação amavelmente cedida por Sérgio Mangas, da Biblioteca de Figueiró dos Vinhos. Bem haja a todos pela colaboração).
«Quando em 4 de Abril, do longínquo ano de 1917, as primeiras tropas portuguesas chegam às trincheiras da frente de batalha, na Grande Guerra de 1914-1918, deparam-se com amplos territórios nevoentos e chuvosos, cheios de humidade e lama, infestados de ratazanas, a cheirarem a morte constante, desprovidos de árvores, arrasados pelas metralhadoras e pelas granadas dos canhões. São sobretudo lavradores, pescadores, artesãos e operários, transformados em soldados, quase todos analfabetos, jovens serranos que são enviados para um inferno de lama, frio, chumbo e fogo e onde o ar cheirava permanentemente a pólvora e a gás mostarda. (Nesse mesmo dia, seria morto o primeiro soldado português na frente ocidental).
Cesário Francisco, Soldado nº 83, da 3ª Brigada de Infantaria, do 4º Batalhão, do Regimento de Infantaria nº 15 e da 1ª Bataria de Artilharia, embarcou em Lisboa no dia 15 de Março de 1917, rumo à Flandres, conjuntamente com mais alguns milhares de compatriotas seus, integrados no 2º contingente da 1ª Divisão do Corpo Expedicionário Português (CEP), destinados a ocupar um sector na «frente» de combate.
De referir, que a primeira morte ocorrida entre os soldados do concelho de Figueiró dos Vinhos, foi a de João Simões, filho de Manuel Simões, da Sigoeira, freguesia de Aguda. Para além deste militar, morreram pelo menos mais 3 militares do nosso concelho e que constam nos arquivos do CEP, entre os quais: o 2º sargento Manuel Francisco da Silva (que já tinha sido ferido duas vezes em combate) e o soldado Vitorino Rodrigues Ferreira (que faleceu de doença adquirida no campo de batalha), ambos da freguesia de Figueiró dos Vinhos.
Nesse dia 15 de Março de 1917, quando o barco que leva Cesário Francisco a bordo larga do Cais de Alcântara, rumo às trincheiras “das Franças”, não leva somente humildes serranos fardados, leva também o espírito e a alma lusas, de um povo habituado a encaixar os desencontros do seu destino mas que sempre recusou separar-se da sua identidade genuína. Na bagagem seguia também, a harmónica, a “concertina”, a guitarra, os “ferrinhos” e o pífaro, lado a lado com a máscara de gás, o cantil, as cartucheiras e a espingarda.
O nosso herói era natural do lugar da Castanheira de Figueiró, onde nasceu a 7 de Maio de 1892. Possuía um espírito alegre e descontraído, irradiava simpatia e, ao que parece, tinha também uma voz belíssima para cantar o fado. Era por todos respeitado e fácilmente congregava simpatia à sua volta. Quando foi chamado para o dever das armas já era casado, com Hermínia da Conceição.
Já na Flandres, e em vésperas de Santo António, no dia 12 de Julho de 1917, o seu batalhão foi colocado de reserva em Paradis, a cerca de 3 Kms da linha da frente. Nesse local, com guerra ou sem guerra, os portugueses decidiram montar um arraial para comemorar o santo popular, com a única condição de não se fazer a tradicional fogueira, por motivos óbvios. Os very lights, que riscavam o céu nocturno, faziam lembrar os foguetes dos dias de festa das suas aldeias. Os morteiros, que ao longe iam rebentando, pareciam substituir o troar do fogo preso, em volta da capela. Desta forma, era como se o cenário estivesse completo. Música é que não faltava para animar o arraial popular, que ia ficando composto, inclusivamente com militares e oficiais doutras unidades e nacionalidades, que se iam chegando, surpreendidos com a “audácia” dos portugueses, que não hesitavam em montar uma festarola a 3 Kms da frente de batalha. Não lembrava ao diabo uma coisa destas! Uma guitarra, um harmónio e uma flauta compunham a orquestra. A certa altura, calou-se o harmónio e a flauta para dar lugar ao “choradinho” da guitarra, que clamava por um fado, saciando o apelo forte das saudades das serranias beirãs, com o timbre metálico das suas cordas, que penetrava forte nas trincheiras, numa melopeia triste, ecoando por terras da Flandres. Logo surgiu uma plêiade de cantadores de fado, uns mais desafinados que outros, até que, para resolver o problema, se lançou a ideia de um concurso para apurar o melhor fadista. Sem demora, constitui-se logo ali um júri e juntou-se dinheiro para os vencedores do espontâneo “festival”.
No final, restavam somente 3 ou 4 concorrentes mais afoitos. É nesta altura que aparece o nosso Cesário Francisco: «Homem alto, esgrouviado, moreno, olhos rasgados, tipo de inteligente». Militar cumpridor, pacato, discreto e não dado a protagonismos mas com uma voz que possuía o segredo certo da entoação e que fazia aflorar nos espíritos a seiva da alma lusitana. Enquanto ele cantava, o campo ficou em silêncio, murmurava-se para não perturbar a inspiração do exímio fadista, que lembrava a pátria longínqua e a alma que todos carregavam. Desta forma, Cesário teve o seu momento de fama naquela véspera de Santo António, numa noite de guerra, perto das trincheiras da morte. Depois dessa noite, raros foram aqueles que se esqueceram do fadista do 4º Batalhão. Antes o tivessem esquecido!
Cerca de um mês depois, em 24 de Agosto, a primeira linha sofria um ataque feroz dos alemães, transformando os campos num inferno de fuzilaria, de metralha e de bombardeamento. À posição onde se encontrava o nosso Cesário Francisco, começaram a chegar vagas, cada vez maiores, de feridos e estropiados, da fulminante ofensiva que se desenrolava a cerca de 3 Kms dali. O alto comando aliado precisava de enviar uma mensagem, muito urgente, para a linha da frente, necessitando de um «voluntário» para o espinhoso recado. O comandante da Companhia de Cesário Francisco olha em redor, à procura do homem certo e que estivesse à altura dessa terrível missão. Ora, desde a véspera de Santo António, que este oficial nunca mais esquecera o rosto do militar fadista, que tanto o comovera, e que até o obrigara a disfarçar um pigarreado de comoção, que lhe “entalara” a garganta. Estava decidido, seria ele a transportar a mensagem. Chama-o, entrega-lhe um papel e diz-lhe: «Vai levar isto lá abaixo!». Militar exemplar, Cesário recebe o papel sem retorquir ou pestanejar e presta-se a cumprir a ordem.
“Ir lá abaixo” significava passar por uma série de trincheiras, constantemente batidas pelas metralhadoras alemãs, pelo zumbido dos morteiros e por balas de todos os calibres. Algumas trincheiras estavam obstruídas, obrigando-o a ir de volta, a descoberto pelo campo, com os morteiros a rebentarem em redor dele. Um rebentamento de um obus projecta-o no chão mas ele levanta-se de imediato, sacudindo a terra com que a força de choque o cobrira, e avança. As balas zumbem à sua volta sem lhe tocar – talvez algum santo o proteja?! – diziam os seus camaradas. Entretanto, quando está prestes a alcançar a primeira linha, ouve-se um silvo agudo e um morteiro estoira mesmo ao seu lado. Desta vez, Cesário Francisco é projectado violentamente por terra e não se levanta. Contudo e apesar de muito ferido, consegue erguer um braço, agitando a mão freneticamente, brandindo o papel, gritando: «Eh! Rapazes!…Uma ordem lá de cima!». Rápidamente, é recolhido por maqueiros enviados da trincheira, constatando-se que tem grande parte do corpo golpeado, com muitos e graves ferimentos.
Enquanto recolheu ao hospital, para ser tratado dos 25 ferimentos que recebera, na sua terra, em Castanheira de Figueiró, chega a noticia que ele desaparecera em combate. A esposa chegou a pôr luto por ele e a angustia tomou conta da família durante mais de um ano.
Da ficha deste militar, que consegui apurar nos arquivos do CEP, consta o seguinte: «Ferido em combate em 24 de Agosto de 1917, dia em que baixou ao H.C.S. nº1 e evacuado em 4 de Setembro para o H.C. 32. Condecorado com a Cruz de Guerra em 5 de Novembro. Teve alta em 27 de Dezembro. Julgado apto para os serviços auxiliares do exército em sessão de 29 do mesmo mês. Seguiu para o D.A.C. em 13 de Janeiro de 1918. Louvado por bravura e dedicação com que cumpriu os seus deveres, transmitindo ordens e comunicações debaixo de intenso bombardeamento do inimigo.»
Cesário Francisco entrara para a história.
O nosso herói desembarca em Lisboa em Maio de 1918, ostentando no peito fardado, 4 medalhas: a cruz de guerra; a medalha da vitória; a medalha de comportamento exemplar e a medalha de campanha da 1ª Guerra Mundial. Recentemente, em acto oficial, os seus herdeiros decidiram oferecer estas medalhas à Câmara Municipal, para que sejam expostas no futuro Museu Municipal, bem como um raro exemplar do livro de Quirino Monteiro e Melo Vieira– «Gambúzios», onde são descritos os feitos heróicos de alguns soldados da Grande Guerra, entre eles, o de Cesário Francisco. O gesto dos herdeiros deste bravo militar, constitui uma lição a ter em conta: que ninguém é dono da memória colectiva, nem dos seus testemunhos, que devem ser partilhados no presente, a pensar nas gerações vindouras, por todos os que valorizam o património, como fonte de conhecimento e de entendimento do nosso passado comum, porque a história não é propriedade de ninguém, nem tão pouco apanágio de vaidades pessoais.
Quando Cesário Francisco, deitado na maca, dorido e ensanguentado, foi interpelado pelo comandante de batalhão, que o animava realçando a sua coragem, somente se preocupou com uma coisa, respondendo ao oficial: «É verdade meu comandante, mas o que mais me rala é que não torno a cantar o fado!» …
(Este artigo foi apoiado no livro acima citado, «Gambúzios», e em documentação obtida no Arquivo Histórico Militar).»
TóZé Silva, 30 de Abril de 2009
http://booklandia.pt/tozesilva/?p=196
Estejam onde estiverem, que ambos descansem em paz!
(Este artigo recupera os escritos de TóZé Silva e foi elaborado em sua memória, recorrendo a informação amavelmente cedida por Sérgio Mangas, da Biblioteca de Figueiró dos Vinhos. Bem haja a todos pela colaboração).
«Quando em 4 de Abril, do longínquo ano de 1917, as primeiras tropas portuguesas chegam às trincheiras da frente de batalha, na Grande Guerra de 1914-1918, deparam-se com amplos territórios nevoentos e chuvosos, cheios de humidade e lama, infestados de ratazanas, a cheirarem a morte constante, desprovidos de árvores, arrasados pelas metralhadoras e pelas granadas dos canhões. São sobretudo lavradores, pescadores, artesãos e operários, transformados em soldados, quase todos analfabetos, jovens serranos que são enviados para um inferno de lama, frio, chumbo e fogo e onde o ar cheirava permanentemente a pólvora e a gás mostarda. (Nesse mesmo dia, seria morto o primeiro soldado português na frente ocidental).
Cesário Francisco, Soldado nº 83, da 3ª Brigada de Infantaria, do 4º Batalhão, do Regimento de Infantaria nº 15 e da 1ª Bataria de Artilharia, embarcou em Lisboa no dia 15 de Março de 1917, rumo à Flandres, conjuntamente com mais alguns milhares de compatriotas seus, integrados no 2º contingente da 1ª Divisão do Corpo Expedicionário Português (CEP), destinados a ocupar um sector na «frente» de combate.
De referir, que a primeira morte ocorrida entre os soldados do concelho de Figueiró dos Vinhos, foi a de João Simões, filho de Manuel Simões, da Sigoeira, freguesia de Aguda. Para além deste militar, morreram pelo menos mais 3 militares do nosso concelho e que constam nos arquivos do CEP, entre os quais: o 2º sargento Manuel Francisco da Silva (que já tinha sido ferido duas vezes em combate) e o soldado Vitorino Rodrigues Ferreira (que faleceu de doença adquirida no campo de batalha), ambos da freguesia de Figueiró dos Vinhos.
Nesse dia 15 de Março de 1917, quando o barco que leva Cesário Francisco a bordo larga do Cais de Alcântara, rumo às trincheiras “das Franças”, não leva somente humildes serranos fardados, leva também o espírito e a alma lusas, de um povo habituado a encaixar os desencontros do seu destino mas que sempre recusou separar-se da sua identidade genuína. Na bagagem seguia também, a harmónica, a “concertina”, a guitarra, os “ferrinhos” e o pífaro, lado a lado com a máscara de gás, o cantil, as cartucheiras e a espingarda.
O nosso herói era natural do lugar da Castanheira de Figueiró, onde nasceu a 7 de Maio de 1892. Possuía um espírito alegre e descontraído, irradiava simpatia e, ao que parece, tinha também uma voz belíssima para cantar o fado. Era por todos respeitado e fácilmente congregava simpatia à sua volta. Quando foi chamado para o dever das armas já era casado, com Hermínia da Conceição.
Já na Flandres, e em vésperas de Santo António, no dia 12 de Julho de 1917, o seu batalhão foi colocado de reserva em Paradis, a cerca de 3 Kms da linha da frente. Nesse local, com guerra ou sem guerra, os portugueses decidiram montar um arraial para comemorar o santo popular, com a única condição de não se fazer a tradicional fogueira, por motivos óbvios. Os very lights, que riscavam o céu nocturno, faziam lembrar os foguetes dos dias de festa das suas aldeias. Os morteiros, que ao longe iam rebentando, pareciam substituir o troar do fogo preso, em volta da capela. Desta forma, era como se o cenário estivesse completo. Música é que não faltava para animar o arraial popular, que ia ficando composto, inclusivamente com militares e oficiais doutras unidades e nacionalidades, que se iam chegando, surpreendidos com a “audácia” dos portugueses, que não hesitavam em montar uma festarola a 3 Kms da frente de batalha. Não lembrava ao diabo uma coisa destas! Uma guitarra, um harmónio e uma flauta compunham a orquestra. A certa altura, calou-se o harmónio e a flauta para dar lugar ao “choradinho” da guitarra, que clamava por um fado, saciando o apelo forte das saudades das serranias beirãs, com o timbre metálico das suas cordas, que penetrava forte nas trincheiras, numa melopeia triste, ecoando por terras da Flandres. Logo surgiu uma plêiade de cantadores de fado, uns mais desafinados que outros, até que, para resolver o problema, se lançou a ideia de um concurso para apurar o melhor fadista. Sem demora, constitui-se logo ali um júri e juntou-se dinheiro para os vencedores do espontâneo “festival”.
No final, restavam somente 3 ou 4 concorrentes mais afoitos. É nesta altura que aparece o nosso Cesário Francisco: «Homem alto, esgrouviado, moreno, olhos rasgados, tipo de inteligente». Militar cumpridor, pacato, discreto e não dado a protagonismos mas com uma voz que possuía o segredo certo da entoação e que fazia aflorar nos espíritos a seiva da alma lusitana. Enquanto ele cantava, o campo ficou em silêncio, murmurava-se para não perturbar a inspiração do exímio fadista, que lembrava a pátria longínqua e a alma que todos carregavam. Desta forma, Cesário teve o seu momento de fama naquela véspera de Santo António, numa noite de guerra, perto das trincheiras da morte. Depois dessa noite, raros foram aqueles que se esqueceram do fadista do 4º Batalhão. Antes o tivessem esquecido!
Cerca de um mês depois, em 24 de Agosto, a primeira linha sofria um ataque feroz dos alemães, transformando os campos num inferno de fuzilaria, de metralha e de bombardeamento. À posição onde se encontrava o nosso Cesário Francisco, começaram a chegar vagas, cada vez maiores, de feridos e estropiados, da fulminante ofensiva que se desenrolava a cerca de 3 Kms dali. O alto comando aliado precisava de enviar uma mensagem, muito urgente, para a linha da frente, necessitando de um «voluntário» para o espinhoso recado. O comandante da Companhia de Cesário Francisco olha em redor, à procura do homem certo e que estivesse à altura dessa terrível missão. Ora, desde a véspera de Santo António, que este oficial nunca mais esquecera o rosto do militar fadista, que tanto o comovera, e que até o obrigara a disfarçar um pigarreado de comoção, que lhe “entalara” a garganta. Estava decidido, seria ele a transportar a mensagem. Chama-o, entrega-lhe um papel e diz-lhe: «Vai levar isto lá abaixo!». Militar exemplar, Cesário recebe o papel sem retorquir ou pestanejar e presta-se a cumprir a ordem.
“Ir lá abaixo” significava passar por uma série de trincheiras, constantemente batidas pelas metralhadoras alemãs, pelo zumbido dos morteiros e por balas de todos os calibres. Algumas trincheiras estavam obstruídas, obrigando-o a ir de volta, a descoberto pelo campo, com os morteiros a rebentarem em redor dele. Um rebentamento de um obus projecta-o no chão mas ele levanta-se de imediato, sacudindo a terra com que a força de choque o cobrira, e avança. As balas zumbem à sua volta sem lhe tocar – talvez algum santo o proteja?! – diziam os seus camaradas. Entretanto, quando está prestes a alcançar a primeira linha, ouve-se um silvo agudo e um morteiro estoira mesmo ao seu lado. Desta vez, Cesário Francisco é projectado violentamente por terra e não se levanta. Contudo e apesar de muito ferido, consegue erguer um braço, agitando a mão freneticamente, brandindo o papel, gritando: «Eh! Rapazes!…Uma ordem lá de cima!». Rápidamente, é recolhido por maqueiros enviados da trincheira, constatando-se que tem grande parte do corpo golpeado, com muitos e graves ferimentos.
Enquanto recolheu ao hospital, para ser tratado dos 25 ferimentos que recebera, na sua terra, em Castanheira de Figueiró, chega a noticia que ele desaparecera em combate. A esposa chegou a pôr luto por ele e a angustia tomou conta da família durante mais de um ano.
Da ficha deste militar, que consegui apurar nos arquivos do CEP, consta o seguinte: «Ferido em combate em 24 de Agosto de 1917, dia em que baixou ao H.C.S. nº1 e evacuado em 4 de Setembro para o H.C. 32. Condecorado com a Cruz de Guerra em 5 de Novembro. Teve alta em 27 de Dezembro. Julgado apto para os serviços auxiliares do exército em sessão de 29 do mesmo mês. Seguiu para o D.A.C. em 13 de Janeiro de 1918. Louvado por bravura e dedicação com que cumpriu os seus deveres, transmitindo ordens e comunicações debaixo de intenso bombardeamento do inimigo.»
Cesário Francisco entrara para a história.
O nosso herói desembarca em Lisboa em Maio de 1918, ostentando no peito fardado, 4 medalhas: a cruz de guerra; a medalha da vitória; a medalha de comportamento exemplar e a medalha de campanha da 1ª Guerra Mundial. Recentemente, em acto oficial, os seus herdeiros decidiram oferecer estas medalhas à Câmara Municipal, para que sejam expostas no futuro Museu Municipal, bem como um raro exemplar do livro de Quirino Monteiro e Melo Vieira– «Gambúzios», onde são descritos os feitos heróicos de alguns soldados da Grande Guerra, entre eles, o de Cesário Francisco. O gesto dos herdeiros deste bravo militar, constitui uma lição a ter em conta: que ninguém é dono da memória colectiva, nem dos seus testemunhos, que devem ser partilhados no presente, a pensar nas gerações vindouras, por todos os que valorizam o património, como fonte de conhecimento e de entendimento do nosso passado comum, porque a história não é propriedade de ninguém, nem tão pouco apanágio de vaidades pessoais.
Quando Cesário Francisco, deitado na maca, dorido e ensanguentado, foi interpelado pelo comandante de batalhão, que o animava realçando a sua coragem, somente se preocupou com uma coisa, respondendo ao oficial: «É verdade meu comandante, mas o que mais me rala é que não torno a cantar o fado!» …
(Este artigo foi apoiado no livro acima citado, «Gambúzios», e em documentação obtida no Arquivo Histórico Militar).»
TóZé Silva, 30 de Abril de 2009
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