António Pereira dos Santos nasceu a 6 de Março de 1895 no lugar de Amoínha Nova, freguesia de Santiago de Alhariz, no concelho de Valpaços. Era o mais velho de 20 filhos de José dos Santos e de Luísa Pereira de Almeida, que casou com apenas 12 anos de idade. Desde cedo, dedicou-se à actividade agrícola e à carpintaria, ao mesmo tempo que frequentaria a escola. Segundo Gil Manuel Morgado dos Santos e Gil Filipe Calvão Santos, respectivamente, neto e bisneto, terá concluído a instrução primária, uma vez que durante o serviço militar foi graduado no posto de 1º cabo. A forma como se expressava no diário que escreveu durante os últimos tempos de cativeiro reforça também esta crença. Foi com base neste e noutros documentos, fotografias e memórias de conversas passadas que, como forma de homenagem, os dois familiares publicaram, em 2008, o livro “António Pereira dos Santos – De Chaves a Copenhaga – A saga de um combatente”.
Foi a 14 de Abril de 1917 que António Pereira dos Santos assentou praça no Batalhão de Infantaria nº 19, de Chaves, passando a pronto a 15 de Julho do mesmo ano. No dia 28 desse mês foi promovido a 1º cabo, tendo sido mobilizado para a guerra a 29 de Agosto. De acordo com os mesmos familiares, a 1 de Setembro foi integrado no Batalhão de Infantaria nº 30, de Bragança.
A 12 de Novembro de 1917 partiu para Brest, na Bretanha francesa, onde chegou três dias depois. No dia seguinte, depois de “uma lauta refeição três bolachas e um pouco de carne”, seguiu viagem de comboio até Ambleteuse, já em França, onde chegou no dia 18. Dois dias mais tarde partiu finalmente para a frente de guerra, em Neuve-Chapelle. Já aqui, foi transferido para a 4ª Brigada (do Minho), a 23 de Novembro, tendo sido incorporado na 4ª Companhia do 1º Batalhão do Regimento de Infantaria nº 3 de Viana do Castelo, com o nº 584.
Pelas 12 horas do dia 9 de Abril de 1918, na região de Lavantie, durante a Batalha de La Lys, o 1º Cabo António Pereira dos Santos foi capturado pelas forças alemãs, começando aqui um novo calvário, que só terminou a 16 de Fevereiro de 1919 quando voltou a pisar território português.
Foi transportado primeiro para a prisão de Lille e em seguida para Bruxelas, na Bélgica. A 16 de Abril chegou ao campo de prisioneiros de Friedrichsfeld, na região do Rhein, Alemanha. No dia 9 de Maio foi transferido para o campo de Ságan (actual Azagan, na Polónia), onde permaneceu dois meses. Seguiu então para o campo de Heilsberg (atual Lidzbark Warminski, na Polónia), onde ficou apenas quatro dias. A 15 de Julho foi levado para o campo de Stallupönen (actual Nesterov, na Rússia).
Foi aqui que António Pereira dos Santos viveu os melhores dias enquanto prisioneiro. No dia 9 de Agosto, um professor prussiano procurou no campo alguém que lhe pudesse fazer uns trabalhos de carpintaria, calhando a sorte ao militar português. A requisição foi por apenas alguns dias, mas o professor, a mãe e a irmã – com quem vivia – simpatizaram com António Pereira dos Santos e, por isso, solicitaram ao oficial responsável pelo campo de Stallupönen que o prisioneiro ficasse até ao final da guerra. O comandante autorizou a que o português permanecesse “por algum tempo”, avisando o professor de que, se ele escapasse, “não lhe ia ficar barato”. António Pereira dos Santos ficou então responsável pela lida da casa (excepto a confecção das refeições) e passou a receber o salário da criada, que entretanto tinha sido despedida. Segundo os seus familiares, terá sido nesta altura que o militar português começou a escrever o seu diário.
Após a assinatura do Armistício, António Pereira dos Santos é obrigado a regressar ao campo de prisioneiros, o que acontece a 16 de Novembro, para poder iniciar a sua viagem de regresso a casa, também ela atribulada. Ainda permaneceu 15 dias em Stallupönen. No início de Dezembro foi transferido para Heilsberg, onde ficou até 3 de Janeiro de 1919. Neste dia, saiu do campo de prisioneiros inserido num grupo de italianos, fazendo-se passar por um deles. No dia seguinte, estavam em Dantzig (actual Gdansk, na Polónia) de onde, a 8 do mesmo mês, partiu num vapor em direcção a Copenhaga, na Dinamarca. Permanece na região até 22 de Janeiro, altura em que parte para Cherburgo, em França, onde chegou quatro dias mais tarde. Finalmente, a 2 de Fevereiro zarpou com destino a Lisboa, onde desembarcou no cais de Alcântara três dias depois.
António Pereira dos Santos regressou a Tancos a 5 de Janeiro. Aqui permaneceu durante cerca de 15 dias à espera que fossem restabelecidas as ligações ferroviárias. Rumou depois a norte, tendo chegado à sua aldeia natal no dia 22 de Janeiro.
Pouco tempo depois do regresso a casa, António Pereira dos Santos mudou-se para Adães, na freguesia de Santa Leocádia, concelho de Chaves, para gerir a casa agrícola de uma tia materna, que enviuvara. Aqui conheceu Carolina Augusta Gomes, oito anos mais velha, com quem casaria a 24 de Outubro de 1921 na igreja românica de Santa Leocádia. Nos primeiros tempos, o casal viveu em casa dos pais de António Pereira dos Santos, em Amoínha Nova, mas pouco tempo depois mudou-se para o lugar do Carregal, na freguesia de Santa Leocádia, onde viveu até ao fim dos seus dias. Tiveram quatro filhos: dois rapazes e duas raparigas.
António Pereira dos Santos morreu a 7 de Janeiro de 1976, aos 81 anos, na casa da filha mais velha. Segundo os seus neto e bisneto, o corpo foi amortalhado com o capote que usou na guerra e que usava muitas vezes como almofada. Está sepultado no cemitério de Santa Leocádia.
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