José Ferreira e as suas recordações da batalha de La Lys

José Ferreira nasceu em 12 de Agosto de 1895 em Lomba, paróquia de Sobrosa, em Paredes, Distrito do Porto. Foi escolarizado, apesar das condições modestas de vida dos seus pais. Assim, aprendeu a ler, escrever e contar. Aprendeu a fabricar tamancos, tornando-se tamanqueiro, tipo de calçado muito próprio da zona e muito usado pelas classes mais baixas. Em 1915, a 13 de Agosto, é considerado «apto para o serviço» e como tal, estaria pronto a defender a sua Pátria. O que foi chamado a fazer, tempo depois.
O seu caminho começa a 12 de Maio de 1916 quando é incorporado no Regimento de Infantaria nº 32 de Penafiel. Termina a sua instrução a 29 de Agosto de 1916 e continua ao serviço da Nação. Entretanto apaixona-se e pede permissão aos seus superiores para casar. A celebração ocorre a 2 de Março de 1917. Sua esposa era Olinda Torres Maia. Em 1 de Junho de 1917 reúne-se à 3ª Companhia do 1º Batalhão com o nº 321. Deverá embarcar para França, o que sucede pouco depois. Parte de Lisboa em direcção a Brest em 14 de Julho. Em 22 de Julho de 1917 encontrar-se-ia a desembarcar na gare de Aire-sur-la Lys. Fez treinamento, como todos os soldados recém - chegados e, depois de um mês de vacinações, instruções e outras formalidades, é colocado no Regimento de Infantaria 21, proveniente da Covilhã. Pelo caminho sofreu uma pequena punição por ter faltado a uma instrução, o que era bastante comum na disciplina militar e surge referenciada na sua folha individual. Tal não impediu a continuação dos seus serviços no RI 21 até ao dia em que, reformulando-se as forças que se encontravam na frente portuguesa, terá sido incorporado no Regimento de Infantaria nº 11, no dia 5 de Abril de 1918.
Foi com estes camaradas que se encontrou no Front a 9 de Abril, durante aquela que ficou conhecida em Portugal como a «Batalha de La Lys». Com eles foi testemunha activa do que sucedeu. Seu neto recorda-se de que ele contava que, depois de resistirem o mais que podiam, tendo muitos soldados portugueses sido mortos ou feitos prisioneiros, José Ferreira, junto com um dos seus companheiros, consegue dirigir-se, debaixo de fogo, para a retaguarda, na altura em que toda a linha da frente tinha já colapsado e não conseguia conter qualquer avanço germânico. Durante uma curta acalmia nos bombardeamentos inimigos, os dois soldados portugueses, segundo o mesmo contava, conseguem abrigo numa casa quase em total ruina, crentes que se encontrava desabitada. Estava, todavia, habitada por uma idosa local que, segundo dizia, lhes ofereceu café com um largo sorriso. Com muita idade, a anciã tinha preferido ficar ali a partir com os outros habitantes, por ser incapaz de tal, de deixar a sua casa e de andar, com o peso da idade. Rapidamente José Ferreira compreende que estão novamente a ser bombardeados, e escutam-se também os zumbidos dos tiros de metralhadora. Decidem sair da habitação arruinada e José Ferreira contava sempre que tentaram convencer a velha senhora a sair com eles mas que ela se recusou, instigando-os a sair rápido do local. Terá ficado a vê-los partir, de uma janela, e no mesmo instante em que se afastam, a casa é bombardeada e tudo é reduzido a pó.
Anos depois José Ferreira contava que considerava aquela velha senhora o seu «anjo da guarda». O soldado José Ferreira só retornará a Portugal em 3 de Agosto de 1918, data em que desembarca em Lisboa. Ficará depois inteiramente livre de qualquer obrigação militar, passando à reserva a 8 de Maio de 1919. Retorna à sua terra natal, para perto da sua esposa, com a qual teve oito filhos, e retornando ao seu mester, ou seja, tamanqueiro. José Ferreira faleceu em 25 de Junho de 1960. Tendo sempre sofrido sequelas relacionadas com os gases inalados enquanto estava na frente de batalha, acabaria por ter como causa da sua morte um tumor pulmonar.

Informação Adicional

Autor - Relator
Margarida Portela
Testemunha - Contador
Afonso da Silva Maia

Intervenientes

 

Nome
José Ferreira
Cargo
Soldado

Teatros de Guerra

 

Teatros de Guerra
França

Mais informações

 

Região
Aire-sur-la Lys
Data do início da história
1916
Data do fim da história
1918

Direitos e Divulgação

 

Entidade detentora de direitos
Instituto de Historia Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova Lisboa – Portugal
Tipo de direitos
Todos os direitos reservados
Link para acesso externo
http://www.portugal1914.org/portal/pt/memorias-da-i-guerra/historias/item/6650-jose-ferreira-e-as-suas-recordacoes-da-batalha-de-la-lys

Objectos Relacionados

José Ferreira, antes de partir para França em 1917

José Ferreira e sua esposa, Olinda Torres, em 1959

Boletim Individual de José Ferreira

Comentários

Comentar...