Foi através da Câmara Municipal de Tavira que entrámos em contacto com esta História e Memória e com Rui Reis, neto do combatente Armando Cardoso dos Reis, personagem central, da qual seu neto guarda algumas memórias e um interessante espólio, que inclui fardamento diverso, como um capacete de trincheira ou um pingalim, condecorações pertencentes ao militar, postais, fotografias, e até um penso individual antiséptico, que fazia parte do material entregue aos combatentes que se encontravam nas trincheiras.
Mas quem era este combatente português, que partiu para França, e que hoje seu neto honra, contando-nos a sua história?
Armando Cardoso dos Reis nasceu em Lisboa em 1890. Filho de pais divorciados, foi criado pela mãe, Maria José Cardoso, professora primária na capital. Viria a frequentar a Escola Politécnica, onde fez os preparativos para a Escola de Guerra, na qual entraria já depois de implantada a República.
Armando, que à época era Tenente, embarcaria para França em 23 de Fevereiro de 1917, fazendo parte da 4ª Companhia do Regimento de Infantaria nº 24. Chegando a Brest poucos dias depois, encontramos referências a que terá ficado doente, dando baixa a um hospital a 4 de Março, e tendo alta dezanove dias depois, a 23 daquele mês. Apresentou-se ao Quartel-general da Base, já restabelecido, no dia 29, de onde foi enviado ao seu regimento, para com ele permanecer, tal como havia sido estipulado ainda em Lisboa. Seguiria então em diligência para a Escola de Metralhadoras Ligeiras, para frequentar o curso desta mesma especialidade, regressando à 4ª Companhia do seu batalhão em 23 de Abril de 1917, já aprovado no curso que ali frequentou.
Em Fevereiro de 1918, Armando passaria a comandar interinamente a 4ª Companhia do R.I. 24. A 28 de Fevereiro foi ainda nomeado Capitão e, alguns dias depois, tornar-se-ia membro do Estado-maior da sua arma. A nomeação efectiva para o comando da sua companhia só surgiria a 30 de Julho do mesmo ano, tal como terá constado nas ordens do exército daquele mesmo dia.
Em 13 de Outubro de 1918 encontrava-se em diligências na Escola Inglesa de Instrutores, de onde regressa a 16 de Novembro, passado já o dia do Armistício. Armando Cardoso dos Reis deparou-se então com a dissolução da sua unidade, efectuada a 29 de Outubro de 1918, pese embora não tenha regressado por isso à terra pátria. Tal como uma nota adicional, presente no seu processo, nos indica, à data da dissolução do seu batalhão, ele e outros dos oficiais foram transferidos para Infantaria 11 e 17, onde terão recebido diversas colocações.
A qual das unidades Armando ficaria realmente adstrito não é referido, mas sabemos que, durante a fase final da guerra, assumiria funções de 1º Adjunto da 2ª Brigada de Infantaria, e assim permaneceu até pelo menos 19 de Dezembro de 1918, data em que recebeu autorização para visitar Portugal e desfrutar de 30 dias de licença. Cumpridos esses dias, o dever fá-lo-ia retornar a França, onde se apresentaria em 18 de Janeiro, para reassumir as funções de 1º Adjunto, funções essas nas quais permaneceria até 24 de Abril de 1919, quando passou a exercer as de Major de Brigada Interino da 2ª B.I.
Sempre cumpridor, tal como podemos constatar pela sua Ficha Individual, hoje em dia à guarda do Arquivo Histórico Militar em Lisboa, e sempre muito zeloso dos seus afazeres e obrigações, Armando Cardoso dos Reis foi louvado em 20 de Maio de 1919 pela sua notável dedicação e inexcedível proficiência e lealdade pelo desempenho das suas funções como Major de Brigada Interino.
Em Junho de 1919 Armando terá sido abatido ao efectivo do CEP, bem como dispensado do serviço no mesmo. Fixaria então a sua residência em Auchel, Pas de Calais, com a devida autorização do Exército Português, onde ficou durante 90 dias. Tal foi-lhe permitido por se encontrar em utilização da «Licença de Regresso», dias de licença que o mesmo não teria gozado durante a sua estadia militar em França, e que agora aproveitava para usufruir em terras francesas. Ali terá conhecido a sua futura esposa, a professora primária Jeanne Marneffe, com a qual casou ainda em 1919.
Em Outubro, antes de regressar a Portugal, Armando Cardoso dos Reis apresentar-se-ia ainda na Comissão Liquidatária do CEP, para informar que regressava a Portugal.
De regresso a Portugal, Armando Cardoso dos Reis foi Director de instrução dos Bombeiros de Lisboa até 1936. Deixaria esse cargo naquele ano para assumir uma repartição do Ministério da Guerra, onde se viria a relacionar com o então capitão Humberto Delgado. Passou ainda pelo Regimento de Infantaria 15, em Lagos, e comandou o Batalhão de Caçadores de Castelo Branco. Pediu para passar à reserva como Tenente-Coronel e assumiria as cadeiras de Matemática e Física no Colégio São João de Brito (Lisboa), onde permaneceu como professor até à data da sua morte, em 1956.
Segundo o seu neto Rui Reis, Armando Cardoso dos Reis pouco falava sobre a guerra e sobre o seu papel no conflito. Das poucas memórias partilhadas, recordadas agora pelo seu neto, lembrava-se bem dos contactos entre portugueses e ingleses, bem como alguns episódios mais cómicos, registadas agora na memória familiar. Existia uma pequena história que costumava contar, de um rato que, num abrigo de trincheira, aparecia sempre, como era habitual, para recolher a sua pequena ração de queijo. E contava também que, durante a viagem para França, feita a bordo de um navio de transporte, se instalou grande pânico, por se ter dado alarme de presença de um submarino alemão, provavelmente avistado no horizonte. Na ocasião quase trágica, um dos seus camaradas, que se encontrava desnudo no interior do navio, subiu para o convés com a única coisa à qual conseguira deitar mão… Um par de botas!
Apontamentos que significam provavelmente que, como muitos combatentes, Armando não contava à família as piores agruras, as vivências mais duras da trincheira, a morte dos homens, as doenças e tantos outros pormenores. Agora, pouco a pouco, vamos resgatando estas memórias. E entre elas, vão surgindo estes pormenores mais cómicos, pequenas ilhas em meio a uma guerra que não teve nada de divertido. Surgem memórias e episódios de coragem, de camaradagem, de coragem e de louvor. Histórias e Memórias trazidas a nós por quem se orgulha da vida dos seus antepassados, como Rui Reis, neto deste combatente.
Mas quem era este combatente português, que partiu para França, e que hoje seu neto honra, contando-nos a sua história?
Armando Cardoso dos Reis nasceu em Lisboa em 1890. Filho de pais divorciados, foi criado pela mãe, Maria José Cardoso, professora primária na capital. Viria a frequentar a Escola Politécnica, onde fez os preparativos para a Escola de Guerra, na qual entraria já depois de implantada a República.
Armando, que à época era Tenente, embarcaria para França em 23 de Fevereiro de 1917, fazendo parte da 4ª Companhia do Regimento de Infantaria nº 24. Chegando a Brest poucos dias depois, encontramos referências a que terá ficado doente, dando baixa a um hospital a 4 de Março, e tendo alta dezanove dias depois, a 23 daquele mês. Apresentou-se ao Quartel-general da Base, já restabelecido, no dia 29, de onde foi enviado ao seu regimento, para com ele permanecer, tal como havia sido estipulado ainda em Lisboa. Seguiria então em diligência para a Escola de Metralhadoras Ligeiras, para frequentar o curso desta mesma especialidade, regressando à 4ª Companhia do seu batalhão em 23 de Abril de 1917, já aprovado no curso que ali frequentou.
Em Fevereiro de 1918, Armando passaria a comandar interinamente a 4ª Companhia do R.I. 24. A 28 de Fevereiro foi ainda nomeado Capitão e, alguns dias depois, tornar-se-ia membro do Estado-maior da sua arma. A nomeação efectiva para o comando da sua companhia só surgiria a 30 de Julho do mesmo ano, tal como terá constado nas ordens do exército daquele mesmo dia.
Em 13 de Outubro de 1918 encontrava-se em diligências na Escola Inglesa de Instrutores, de onde regressa a 16 de Novembro, passado já o dia do Armistício. Armando Cardoso dos Reis deparou-se então com a dissolução da sua unidade, efectuada a 29 de Outubro de 1918, pese embora não tenha regressado por isso à terra pátria. Tal como uma nota adicional, presente no seu processo, nos indica, à data da dissolução do seu batalhão, ele e outros dos oficiais foram transferidos para Infantaria 11 e 17, onde terão recebido diversas colocações.
A qual das unidades Armando ficaria realmente adstrito não é referido, mas sabemos que, durante a fase final da guerra, assumiria funções de 1º Adjunto da 2ª Brigada de Infantaria, e assim permaneceu até pelo menos 19 de Dezembro de 1918, data em que recebeu autorização para visitar Portugal e desfrutar de 30 dias de licença. Cumpridos esses dias, o dever fá-lo-ia retornar a França, onde se apresentaria em 18 de Janeiro, para reassumir as funções de 1º Adjunto, funções essas nas quais permaneceria até 24 de Abril de 1919, quando passou a exercer as de Major de Brigada Interino da 2ª B.I.
Sempre cumpridor, tal como podemos constatar pela sua Ficha Individual, hoje em dia à guarda do Arquivo Histórico Militar em Lisboa, e sempre muito zeloso dos seus afazeres e obrigações, Armando Cardoso dos Reis foi louvado em 20 de Maio de 1919 pela sua notável dedicação e inexcedível proficiência e lealdade pelo desempenho das suas funções como Major de Brigada Interino.
Em Junho de 1919 Armando terá sido abatido ao efectivo do CEP, bem como dispensado do serviço no mesmo. Fixaria então a sua residência em Auchel, Pas de Calais, com a devida autorização do Exército Português, onde ficou durante 90 dias. Tal foi-lhe permitido por se encontrar em utilização da «Licença de Regresso», dias de licença que o mesmo não teria gozado durante a sua estadia militar em França, e que agora aproveitava para usufruir em terras francesas. Ali terá conhecido a sua futura esposa, a professora primária Jeanne Marneffe, com a qual casou ainda em 1919.
Em Outubro, antes de regressar a Portugal, Armando Cardoso dos Reis apresentar-se-ia ainda na Comissão Liquidatária do CEP, para informar que regressava a Portugal.
De regresso a Portugal, Armando Cardoso dos Reis foi Director de instrução dos Bombeiros de Lisboa até 1936. Deixaria esse cargo naquele ano para assumir uma repartição do Ministério da Guerra, onde se viria a relacionar com o então capitão Humberto Delgado. Passou ainda pelo Regimento de Infantaria 15, em Lagos, e comandou o Batalhão de Caçadores de Castelo Branco. Pediu para passar à reserva como Tenente-Coronel e assumiria as cadeiras de Matemática e Física no Colégio São João de Brito (Lisboa), onde permaneceu como professor até à data da sua morte, em 1956.
Segundo o seu neto Rui Reis, Armando Cardoso dos Reis pouco falava sobre a guerra e sobre o seu papel no conflito. Das poucas memórias partilhadas, recordadas agora pelo seu neto, lembrava-se bem dos contactos entre portugueses e ingleses, bem como alguns episódios mais cómicos, registadas agora na memória familiar. Existia uma pequena história que costumava contar, de um rato que, num abrigo de trincheira, aparecia sempre, como era habitual, para recolher a sua pequena ração de queijo. E contava também que, durante a viagem para França, feita a bordo de um navio de transporte, se instalou grande pânico, por se ter dado alarme de presença de um submarino alemão, provavelmente avistado no horizonte. Na ocasião quase trágica, um dos seus camaradas, que se encontrava desnudo no interior do navio, subiu para o convés com a única coisa à qual conseguira deitar mão… Um par de botas!
Apontamentos que significam provavelmente que, como muitos combatentes, Armando não contava à família as piores agruras, as vivências mais duras da trincheira, a morte dos homens, as doenças e tantos outros pormenores. Agora, pouco a pouco, vamos resgatando estas memórias. E entre elas, vão surgindo estes pormenores mais cómicos, pequenas ilhas em meio a uma guerra que não teve nada de divertido. Surgem memórias e episódios de coragem, de camaradagem, de coragem e de louvor. Histórias e Memórias trazidas a nós por quem se orgulha da vida dos seus antepassados, como Rui Reis, neto deste combatente.
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