Helena Cordeiro veio com a sua mãe até aos Dias da Memória contar a história do seu avô, Fortunato António Ferrinho, que combateu nas trincheiras em França e participou na batalha de La Lys. Trouxe postais e três fotografias do combatente.
Filho de Manuel António e de Antónia de Jesus, Fortunato António Ferrinho nasceu na Quinta do Ferrinho (de onde lhe veio o nome), freguesia de São Vicente, concelho da Guarda. A mãe de Helena Cordeiro, filha de Fortunato Ferrinho, conta que o pai era estudante universitário e que foi quando o pai estava na tropa que rebentou a guerra. A filha de Fortunato conta então o desejo do pai em casar-se antes de ir para a guerra, o que veio a acontecer, casando-se com Elvira da Piedade Figueiredo Martins. Uma das fotografias que Helena Cordeiro partilhou retrata Fortunato Ferrinho com a mulher Elvira, tirada antes de partir para França. O casal residiria então em Caria, concelho de Belmonte, na Beira Baixa.
2.º Sargento do 1.º Batalhão da 3.ª Companhia de Infantaria 24, Fortunato Ferrinho esteve mobilizado entre 1917 e 1918, tendo embarcado para França em Lisboa, no dia 23 de Fevereiro de 1917.
A 25 de Março de 1917, já em França, recebeu a primeira carta com notícias de Portugal, à qual responderia com um postal no dia seguinte. O grosso da correspondência de guerra, a julgar pela que sobreviveu, manteve-a com a mulher, a quem escreveu ao longo do tempo que esteve na frente e a quem, por vezes, se queixava de não receber notícias com tanta regularidade como gostaria. Os postais eram circunstanciais, mandando saudades e votos de boa saúde, acompanhados de saudações e recomendações a outros familiares e conhecidos; o sargento, por seu lado, invariavelmente estava bem. À mulher escreveria ainda cartas mais longas, respondendo às que ela, apesar de tudo, iria enviando. Em 26 de Julho de 1917, era Elvira que lhe escrevia por não ter voltado a ter notícias dele, informando-o também de que em breve iria mudar de casa. Trocavam também fotografias: a mulher teria enviado uma e, em 12 de Fevereiro de 1918, envia-lhe Fortunato outra, provavelmente aquela em que está fardado.
Os curtos postais enviados à mulher dão uma aparência de normalidade. No entanto, a mãe de Helena Cordeiro, ainda que fosse a filha mais nova e, por isso mesmo, de pouco se lembre, conta que o sargento Fortunato Ferrinho relatava, já depois da guerra, alguns aspectos particularmente infelizes da vida nas trincheiras, memórias que o emocionavam muito, levando-o às lágrimas, e que impressionavam a filha então pequena. Ferrinho contava como ele e os camaradas passavam muita fome e muito frio. Mais impressionante, viu morrer colegas ao seu lado, que enterrou. Tudo coisas que os postais não deixavam adivinhar. Quanto a outros episódios mais concretos, Fortunato Ferrinho não contaria, até porque a família, dado o efeito que essas lembranças tinham nele, não insistia, mudando de assunto.
No início de Janeiro de 1918, o sargento Ferrinho recebia uma carta da mulher e uma outra de Felisbela, datada de 6 de Dezembro de 1917, onde lhe era dado conta da ocorrência de uma “revolução” em Portugal, o golpe sidonista de 5 de Dezembro.
Em 3 de Fevereiro de 1918, Fortunato Ferrinho passou à 2.ª Companhia do mesmo batalhão, e, dias depois, a 12 de Fevereiro, escrevia à mulher que não tinha podido escrever nos últimos dias por “motivo de serviço”. Se no início de Janeiro, o sargento esperava visitar a mulher em breve (só ainda não sabendo se o faria nesse mês ou se em Fevereiro), tal acabou por não acontecer. Entretanto, dava-se a batalha de La Lys, onde Fortunato Ferrinho participou, como conta a neta, momento que estará entre aqueles de que ele não falaria à família.
A sua desejada licença, de 53 dias, já só começou meses depois, no dia 11 de Agosto de 1918. Por excesso de licença, acabaria colocado no Depósito Misto, a 5 de Outubro de 1918. Regressou a Portugal ainda nesse ano.
Já depois da guerra, Fortunato Ferrinho tentaria a promoção a 1.º Sargento, o que aconteceu em 6 de Abril de 1919, passando ao regimento de Infantaria 12. Em 16 de Outubro de 1920, regressou a Infantaria 24. Já em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, foi para Moçambique.
As suas fotografias e objectos têm estado na família. No entanto, o espólio de Fortunato Ferrinho está espalhado, sendo outra parte da família que tem a espada e as suas medalhas. Uma prima da entrevistada tem consigo uma fotografia do sargento Ferrinho com o regimento na Flandres, o que não impediu Helena Cordeiro de tentar revelar o percurso do avô com os objectos que estão na sua posse, num importante esforço de recuperar e preservar a memória.
Filho de Manuel António e de Antónia de Jesus, Fortunato António Ferrinho nasceu na Quinta do Ferrinho (de onde lhe veio o nome), freguesia de São Vicente, concelho da Guarda. A mãe de Helena Cordeiro, filha de Fortunato Ferrinho, conta que o pai era estudante universitário e que foi quando o pai estava na tropa que rebentou a guerra. A filha de Fortunato conta então o desejo do pai em casar-se antes de ir para a guerra, o que veio a acontecer, casando-se com Elvira da Piedade Figueiredo Martins. Uma das fotografias que Helena Cordeiro partilhou retrata Fortunato Ferrinho com a mulher Elvira, tirada antes de partir para França. O casal residiria então em Caria, concelho de Belmonte, na Beira Baixa.
2.º Sargento do 1.º Batalhão da 3.ª Companhia de Infantaria 24, Fortunato Ferrinho esteve mobilizado entre 1917 e 1918, tendo embarcado para França em Lisboa, no dia 23 de Fevereiro de 1917.
A 25 de Março de 1917, já em França, recebeu a primeira carta com notícias de Portugal, à qual responderia com um postal no dia seguinte. O grosso da correspondência de guerra, a julgar pela que sobreviveu, manteve-a com a mulher, a quem escreveu ao longo do tempo que esteve na frente e a quem, por vezes, se queixava de não receber notícias com tanta regularidade como gostaria. Os postais eram circunstanciais, mandando saudades e votos de boa saúde, acompanhados de saudações e recomendações a outros familiares e conhecidos; o sargento, por seu lado, invariavelmente estava bem. À mulher escreveria ainda cartas mais longas, respondendo às que ela, apesar de tudo, iria enviando. Em 26 de Julho de 1917, era Elvira que lhe escrevia por não ter voltado a ter notícias dele, informando-o também de que em breve iria mudar de casa. Trocavam também fotografias: a mulher teria enviado uma e, em 12 de Fevereiro de 1918, envia-lhe Fortunato outra, provavelmente aquela em que está fardado.
Os curtos postais enviados à mulher dão uma aparência de normalidade. No entanto, a mãe de Helena Cordeiro, ainda que fosse a filha mais nova e, por isso mesmo, de pouco se lembre, conta que o sargento Fortunato Ferrinho relatava, já depois da guerra, alguns aspectos particularmente infelizes da vida nas trincheiras, memórias que o emocionavam muito, levando-o às lágrimas, e que impressionavam a filha então pequena. Ferrinho contava como ele e os camaradas passavam muita fome e muito frio. Mais impressionante, viu morrer colegas ao seu lado, que enterrou. Tudo coisas que os postais não deixavam adivinhar. Quanto a outros episódios mais concretos, Fortunato Ferrinho não contaria, até porque a família, dado o efeito que essas lembranças tinham nele, não insistia, mudando de assunto.
No início de Janeiro de 1918, o sargento Ferrinho recebia uma carta da mulher e uma outra de Felisbela, datada de 6 de Dezembro de 1917, onde lhe era dado conta da ocorrência de uma “revolução” em Portugal, o golpe sidonista de 5 de Dezembro.
Em 3 de Fevereiro de 1918, Fortunato Ferrinho passou à 2.ª Companhia do mesmo batalhão, e, dias depois, a 12 de Fevereiro, escrevia à mulher que não tinha podido escrever nos últimos dias por “motivo de serviço”. Se no início de Janeiro, o sargento esperava visitar a mulher em breve (só ainda não sabendo se o faria nesse mês ou se em Fevereiro), tal acabou por não acontecer. Entretanto, dava-se a batalha de La Lys, onde Fortunato Ferrinho participou, como conta a neta, momento que estará entre aqueles de que ele não falaria à família.
A sua desejada licença, de 53 dias, já só começou meses depois, no dia 11 de Agosto de 1918. Por excesso de licença, acabaria colocado no Depósito Misto, a 5 de Outubro de 1918. Regressou a Portugal ainda nesse ano.
Já depois da guerra, Fortunato Ferrinho tentaria a promoção a 1.º Sargento, o que aconteceu em 6 de Abril de 1919, passando ao regimento de Infantaria 12. Em 16 de Outubro de 1920, regressou a Infantaria 24. Já em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, foi para Moçambique.
As suas fotografias e objectos têm estado na família. No entanto, o espólio de Fortunato Ferrinho está espalhado, sendo outra parte da família que tem a espada e as suas medalhas. Uma prima da entrevistada tem consigo uma fotografia do sargento Ferrinho com o regimento na Flandres, o que não impediu Helena Cordeiro de tentar revelar o percurso do avô com os objectos que estão na sua posse, num importante esforço de recuperar e preservar a memória.
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