António Braz - Quando a guerra faz uma vida

Foram mais de 30 anos de vida aqueles que António Braz dedicou ao Exército Português. Nascido a 21 de Fevereiro de 1877 no Monte das Taipas, freguesia de São Vicente, município de Elvas, António Braz assentou praça como voluntário, aos 16 anos, no Regimento de Infantaria 4.

Três anos depois, a 17 de Dezembro de 1896, embarcou para a Cidade de Moçambique como 2º sargento da 1ª Companhia do 2º Batalhão de Infantaria 4. Participou nas campanhas dos Namarrais e Vátuas, em Gaza, sob ordens de Mouzinho de Albuquerque. Regressou à sua terra natal a 17 de Novembro do ano seguinte.
Nos anos 1898 e 1899, frequentou a Escola Central de Mafra. No dia 22 de Outubro de 1898, casou com Adelaide Augusta da Silva, com quem viria a ter cinco filhos.
Entre 1 de Setembro de 1909 e 7 de Junho de 1911, o alferes António Braz é colocado na 5ª Companhia Indígena de Infantaria, em Moçambique. De 25 de Junho desse ano a 18 de Maio de 1913 prestará serviço em Angola integrado na mesma companhia. A 18 de Maio de 1913 embarca para Lourenço Marques, onde ficará entre 29 de Maio e 16 de Setembro do mesmo ano. Regressa a Lisboa a 15 de Outubro.
Já como tenente, parte para Angola, onde permanece entre 10 de Dezembro de 1914 e 3 de Fevereiro de 1916. Participou na Campanha dos Cuanhamas e em combates contra os alemães no sul do país. No dia 21 de Fevereiro de 1916, está novamente de regresso a Elvas.
Quando pensava que, finalmente, iria ficar junto da família, António Braz recebe ordens para seguir para a Flandres. Em Agosto de 1917, embarca para França incorporado no 3º Batalhão da Infantaria 17 rumo ao porto de Brest.
Entre 10 de Dezembro de 1917 e 7 de Março de 1918 permanece entrincheirado, tendo sido vítima de um ataque com gás (no dia 18 de Dezembro tinha sido ferido numa perna).
A 6 de Abril de 1918, António Braz regressa às trincheiras para render o Batalhão de Infantaria 23 no sector de Ferme du Bois. Nesse mesmo dia, foi promovido ao posto de capitão.
Durante a batalha de La Lys, a 9 de Abril, é feito prisioneiros pelas tropas alemães. No dia seguinte, depois da longa marcha de prisioneiros, chega à fortaleza de Lille. A 12 do mesmo mês embarca no comboio para o campo de Rastatt, en Baden, no sul da Alemanha, onde chega dois dias depois.
A 4 de Julho, é colocado num comboio com destino ao campo de Breesen, em Mecklenburg, no norte do país, onde chega 48 horas depois. É o prisioneiro número 601. No dia 10 de Agosto recebe a primeira encomenda de casa e, no dia 24 de Dezembro, a comunicação oficial da saída do campo de prisioneiros.

Parte no dia 28 de Dezembro rumo a Enschede, na Holanda, onde chega no dia seguinte. Fica alojado numa escola. Dois dias depois, parte de comboio para Haia, onde foi recebido na estação pelo embaixador António Bandeira. Permanece num hotel desta cidade até 12 de Janeiro de 1919. Neste dia, parte de comboio para Roterdão, onde embarca no navio brasileiro “Sobral” com mais 2100 soldados. O navio sai dois dias depois em direcção a França.

No dia 25 de Janeiro, embarca no vapor inglês “Helenus” com 76 sargentos e equiparados, 221 cabos e soldados e 80 oficiais. Chega a Lisboa no dia 28 do mesmo mês. O relato dos dias vividos em cativeiro deram origem ao livro “Como os prisioneiros portugueses foram tratados pelos alemães”, editado em 1935 pela Tipografia Popular de Elvas.

Nos anos 20, o capitão António Braz desempenhou funções como governador do Forte da Graça, em Elvas. Na década de 30, reformou-se, na sequência de uma decisão de Oliveira Salazer de conceder a pré-reforma por inteiro aos combatentes que forma gaseados na Primeira guerra.

Nos anos 40 e 50, teve uma intensa actividade jornalística na imprensa de Elvas (Jornal de Elvas e O Elvense), onde escreveu sobre a vida militar, as experiências em África, França e na Alemanha e defendeu o património histórico da cidade.
Morreu em 1968, em Elvas, aos 91 anos.
Durante a sua carreira militar recebeu inúmeras condecorações e louvores:

Como praça de pré:
  •  Medalha de cobre da rainha D. Amélia, da Campanha dos Namarrais em 1897 o Medalha de cobre da rainha D. Amélia, da Campanha dos Vátuas, em Gaza, em 1897

Como oficial:
  • Louvor pelo modo inteligente como ministrou instrução ao seu pelotão. Quer teórica, quer prática, pela maneira como compreendeu a disciplina e o soube incutir no espírito das praças, pela sua admirável dedicação pelo serviço e a sua boa vontade sempre manifestada, entre os incessantes e fatigantes trabalhos que a instrução táctica sempre intensiva do batalhão exigia, e pelo valor e serenidade que mostrou fossem por ocasião dos combates de 18, 19 e 20 de Agosto na Mogua (Cuanhama) prestando de tal modo um eficaz auxílio ao comandante da sua companhia. Ordem do 3º batalhão nº 247 de 6-09-1915
  • Medalha militar de prata, comemorativa das operações realizadas no sul da província de Angola nos anos de 914 e 1915. D 2941 de 18-01-1917. O.E. nº 1 (1ª série)
  • Medalha militar de prata da classe de comportamento exemplar pelo O.E. nº 7 (2ª série) de 30-04-1918
  • Louvor pelo interesse que lhe mereceu, quando tenente, a instrução do seu pelotão, em que empenhou a sua boa vontade e muita dedicação. O.E. nº 13 (2ª série) de 20  de Julho
  • Medalha comemorativa das Campanhas do Exército Português com a seguinte legenda na passadeira: “França 1917-1918”. D5061, O.E. nº 16 (1ª série) de 14-12-1918
  • Medalha da vitória, por D. 6186. O.E. nº 23 (1ª série) de 11-11-1919
  • Medalha comemorativa da ocupação da região de Cuanhama, com a seguinte legenda: “Cuanhama 1915”. O.E. nº 13 (1ª série) de 1920
  • Condecorado com o grau de Oficial da Ordem Militar de Aviz. O.E. nº 23 (2ª série) de 1920
  • Medalha de prata da classe de bons serviços. O.E. nº 13 (2ª série) de 19-07-1921
  • Medalha de louvor da Cruz Vermelha. O.E. nº 15 (2ª série) de 1922
  • Medalha militar de ouro, da classe de comportamento exemplar pela O.E. nº 14 (2ª série) de 18-08-1923
  • Autorizado a fazer uso do distintivo especial a que se refere o art. 43º do Regulamento das Ordens Militares Portuguesas, aprovado e mandado pôr em execução pelo D. Nº 6205 de 08-11-1919, por ter sido condecorado com a cruz de guerra de 1ª classe, o 3º batalhão da Infantaria 17, que fez parte das operações no sul de Angola em 1915. O.E. nº 14 (2ª série) de 18-08-1923
  • Louvor pela extrema dedicação e cuidado com que tem conseguido reparar e conservar o Forte da Graça e pela forma criteriosa como tem exercido o Comando do Depósito Disciplinar. Portaria de 12-08-1926. O.E. nº 16 (2ª série) do mesmo ano
  • Louvor pela sua leal cooperação e zelo manifestado pelo serviço, facilitando assim a missão de comandante desta brigada e comando militar de Elvas. Ordem do Quartel-general da 1ª Brigada de Cavalaria e Comando Militar de Elvas, nº 158 de 07-06-1927

Informação Adicional

Autor - Relator
Fátima Mariano
Testemunha - Contador
Isabel Braz

Intervenientes

 

Nome
António Braz
Cargo
Capitão de Infantaria

Teatros de Guerra

 

Teatros de Guerra
Angola; França

Mais informações

 

Data do início da história
1893
Data do fim da história
1918

Direitos e Divulgação

 

Entidade detentora de direitos
Instituto de Historia Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova Lisboa – Portugal
Tipo de direitos
Todos os direitos reservados
Link para acesso externo
http://www.portugal1914.org/portal/pt/memorias-da-i-guerra/historias/item/6665-antonio-braz-quando-a-guerra-faz-uma-vida

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