Universidade e a Guerra

Universidade de Coimbra Universidade de Coimbra

Em Portugal, contrariamente ao que se verificara em países como a Alemanha, a Inglaterra e os Estados Unidos da América, a Universidade não seria mobilizada cientificamente em prol dos esforços bélicos. O contexto nacional, apesar da beligerância activa, era bastante distinto da conjuntura interna dos restantes países beligerantes, nomeadamente do francês, cujas universidades subscreviam, em 1914, um manifesto onde afirmavam explicitamente: «Comme les armées alliées, elles défendent, pour leur part, la liberté du monde

A participação portuguesa na I Guerra Mundial impôs, desde logo, o recrutamento, em larga escala, de professores, assistentes e alunos universitários, o que desestabilizaria as instituições de ensino superior e estagnaria a actividade científica de muitas delas. Logo em 1916, a Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, em ofício para os Ministérios da Instrução Pública e da Guerra, denunciava a profunda crise por que passava e os efeitos da mesma na formação de alunos e na actividade dos seus laboratórios, o que era agravado substancialmente pela crise financeira do Estado. Para além disso, a guerra paralisou também muitas das redes formais e informais de intercâmbio científico e académico estabelecidas entre as universidades portuguesas e estrangeiras, muitas das quais só se recuperariam na segunda metade dos anos 20. Mesmo não tendo sido mobilizados cientificamente, os diferentes estabelecimentos universitários foram chamados, esporadicamente, a dar resposta a algumas exigências trazidas pela guerra, como foi o caso da necessidade de estudar os elementos meteorológicos das camadas altas da atmosfera, pelos observatórios e postos meteorológicos nacionais, em virtude do desenvolvimento da aeronáutica militar.

Não obstante, alguns factores positivos resultariam da conjuntura bélica. Em primeiro lugar, pode destacar-se a criação de poderosos organismos internacionais de cooperação científica, que favoreceram o intercâmbio e a difusão do conhecimento, como a Comissão de Intercâmbio Sanitário da Sociedade das Nações. Por outro lado, intensificar-se-ia o debate interno sobre a missão e as potencialidades do ensino superior, nas suas relações com a Ciência, a Economia e a Sociedade, dinamizado por professores, pedagogos e intelectuais como Alfredo Bensaúde, Pedro José da Cunha, Augusto Celestino da Costa, Matias Bolero Ferreira de Mira, António Sérgio e Faria de Vasconcelos.

 

Bibliografia:

SALGUEIRO, Ângela, “Procurando uma ciência nova? A actividade científica dos laboratórios universitários portugueses no pós I Guerra Mundial”, Comunicação ao I Congresso Anual de História Contemporânea, Lisboa, UNL, 18 e 19 de Maio de 2012.

 

Cite como: Ângela Salgueiro, "Universidade e a Guerra", A Guerra de 1914 - 1918, www.portugal1914.org

 

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