O Soldado Desconhecido de França

Os Soldados desconhecidos velados no Palácio do Congresso. Ilustração Portuguesa, nº 791, 16 de Abril de 1921 Os Soldados desconhecidos velados no Palácio do Congresso. Ilustração Portuguesa, nº 791, 16 de Abril de 1921
 
Aquando da chegada a Lisboa do soldado desconhecido proveniente de África, Portugal tinha igualmente preparado a trasladação para a capital de outro dos seus homens, um outro militar anónimo, que morrera no palco europeu da guerra. Era necessário contemplar tanto um como o outro cenário da conflagração, pela importância que ambos tiveram. E se forças expedicionárias foram enviadas para África, para defesa das colónias, foram igualmente enviados homens para a Europa, o Corpo Expedicionário Português, deliberadamente criado pela República Portuguesa para partir para França e se juntar ao combate, apoiando os Aliados.

O Soldado Desconhecido de França foi assim trasladado para Portugal alguns dias antes da cerimónia fúnebre e patriótica que teria lugar em Lisboa e na Batalha. Os seus restos mortais partiram de França, tendo sido embarcados no porto de Havre, e transportados para solo pátrio no navio Porto. Este terá atracado no Cais de Santos no dia 6 de Abril de 1921. Quando o navio que o transportava chegou perto da costa portuguesa, mais propriamente à zona do Cabo da Roca, foi então escoltado pelo NRP Guadiana, contratorpedeiro pertencente à Marinha Portuguesa, que homenageava desta forma o combatente do C.E.P. que o Porto transportava no seu interior.

Todavia, as homenagens não ficariam por esta escolta, efectuada ainda em mar aberto. Quando chegou ao cais, o Soldado Desconhecido de França tinha à sua espera uma guarda de honra com coroas e palmas, que serviriam igualmente de tributo merecido a outros três soldados que o acompanhavam, todos identificados, e também eles falecidos no palco de guerra europeu. A imprensa da época acompanhou todo o cerimonial efectuado, na doca e fora dela, com o transporte do seu féretro pela capital e trasladação do mesmo para junto do seu irmão de armas, proveniente de África. Assim, este soldado foi conduzido para o Arsenal da Marinha, para a Casa da Balança, onde já se encontrava o militar falecido na defesa das colónias, sendo ambos velados durante a noite e transferidos no dia 7 de Abril para o Palácio do Congresso, o actual edifício do Parlamento em São Bento.

Ali, ambos os ataúdes, adornados de flores e bandeiras, foram velados pelas forças militares do país. Foram visitados pelas missões estrangeiras, que vieram a Portugal, como a Italiana ou a Americana, estando igualmente presentes o Presidente da República, o Ministro da Guerra, membros do Governo, deputados e senadores, assim como representantes da Igreja e até mesmo D. José do Patrocínio Dias, chefe do Corpo de Capelães na frente portuguesa. O cortejo que se seguiu foi triunfal e acompanhado pela população. De Lisboa, os corpos foram transportados para a Batalha, onde ainda hoje permanecem, sob a vigilância de um fogo eterno que os ilumina, e uma Guarda de Honra em perpétua vigilância.
 
Margarida Portela (IHC) 

Cite como: Margarida Portela, "O Soldado Desconhecido de França", A Guerra de 1914 - 1918, www.portugal1914.org

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