Desde 1915 as principais potências beligerantes na Grande Guerra organizaram missões artísticas, que anualmente traziam centenas de artistas internacionais aos campos de batalha, e cujos resultados os cidadãos tinham oportunidade de apreciar nas exposições realizadas. Na ausência de um programa semelhante, Portugal salvou-se pela iniciativa patriótica de um artista, Adriano de Sousa Lopes (1879-1944), que se voluntariou em 1917 para embarcar para França como capitão equiparado e ser o único responsável (e executante) do Serviço Artístico do CEP.
Foi para ele, formado em pintura histórica nas escolas de Belas Artes de Lisboa e da capital francesa (onde residia desde 1903), uma oportunidade única de registar a história contemporânea. “É em primeiro lugar uma obra de propaganda do nosso esforço militar”, anunciou o pintor antes de partir para a frente. Porém, como aconteceu a tantos artistas europeus, o testemunho da guerra mudou os seus planos. Confrontado com a dura realidade das trincheiras, a sua missão inicial tranformou-se numa visão mais pessoal da guerra e do soldado português, impressionada pelo drama da batalha de 9 de Abril de 1918.
No sector português compôs inúmeros desenhos surpreendendo o quotidiano e as operações do CEP. No rescaldo do conflito, produziu um notável conjunto de gravuras a água-forte, que é uma obra cimeira em toda a história da gravura artística portuguesa. As sete pinturas monumentais do Museu Militar de Lisboa, instaladas nas salas da Grande Guerra na década de 1930, desenham uma narrativa intensa e humanista do conflito e constituem, em Portugal, um património cívico raro, sem paralelo a nível internacional. São consideradas as melhores imagens de batalhas da arte portuguesa.
Juntamente com a obra fotográfica de Arnaldo Garcez, afirmam-se como a iconografia mais importante do conflito existente no país e constituem uma fonte capital para a sua memória histórica. Como aliás os livros dos escritores combatentes, com quem o artista se relacionou na frente de guerra e que o homenagearam num célebre almoço confeccionado pelo grupo – e com uma quadra que Jaime Cortesão registou, saída do convívio nas trincheiras:
Bacalhau à Sousa Lopes,
– O fiel, com batatinhas,
Ao nosso Pintor da Guerra,
Que é fiel, pois veio às linhas.
Carlos Silveira (IHA - FCSH)
Cite como: Carlos Silveira, "Sousa Lopes, pintor da Grande Guerra", A Guerra de 1914 - 1918, www.portugal1914.org
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