António Dias – nas garras da Kultur

António Dias era filho de Abílio Dias e de ana Duarte Plácido. Nasceu em Seia em 1895 e cedo abraçou a carreira das armas, tornando-se oficial do exército depois de se licenciar em Direito pela Universidade de Coimbra. Distinguiu-se na carreira de armas, fazendo parte dos soldados enviados à Frente Ocidental. Capitão do exército português, foi enviado com o CEP para França, tendo combatido na Flandres e tomado parte do 9 de Abril de 1918, onde foi feito prisioneiro. Regressaria à terra pátria tão somente em 16 de Janeiro de 1919, trazendo memórias agridoces do seu enfrentamento com a Kultur germânica, lançando depois um livro que entitulou "Nas garras da Kultur". Duas fotografias que aqui mostramos, cedidas por seu neto, fazem parte desse seu cativeiro.
 
 
Após passagem à reserva na vida militar, dedicar-se-ia à advocacia e à investigação histórica, tendo editado diversos pequenos volumes de estudos sobre várias terras do seu concelho. Pretendia então, num futuro mais ou menos breve, que essas pequenas edições pudessem contribuir no final para uma Monografia das Terras de Sena, que nunca terminaria.
 
 
Segundo os que se recordam dele, era um trabalhador incansável, um devoto admirador da sua terra, tendo sido mesmo Presidente da Câmara Municipal de Seia, bem como secretário do Governo Civil da Guarda. Exerceu funções no arquivo Histórico-Militar e foi diretor do jornal "A Ditadura", Semanário Republicano do Distrito da Guarda, publicado na Guarda. Dirigiu ainda o Diário de Coimbra e colaborou intensamente no jornal "A Voz da Serra", onde o seu cunhado, Luís Ferreira Matias era director.

Como tão bem nos referiu seu neto, Luís Jerónimo: "Nada melhor para homenagear António Dias do que transcrever um artigo intitulado “Homenagem de saudade ao Capitão Dr. António Dias” pelo seu cunhado Luís Ferreira Matias, seu cunhado a 26 de Outubro de 1960 no «A voz da Serra».

“(...) na sua simpleza, até mesmo no sentido recolhimento de quantos nelas participaram, foi particularmente emotiva a cerimónia de descerramento da lápide que, no cemitério desta vila, ficou, a partir de 25 de setembro, a perpetuar a memória do querido conterrâneo, e tão devotado amigo da sua terra, que foi o Cap. Dr. António Dias.


Constituindo, ao mesmo tempo, uma expressiva homenagem de apreço e de saudade pelo número, qualidade e devoção de tantos amigos que o não esqueceram, esta romagem de carinhosa evocação pôde ter grandeza e solenidade.

Merecia-o o Dr. António Dias a todos os títulos. E se, para compensar a sua alma dolorida e distante de tantas amarguras e de tantos desalentos morais que em vida o abalaram, algum bem espiritual o confortaria, mas não o desejaria para o seu coração simples e bom, tolerante e generoso, do que a presença espiritual dos que, neste momento de forte recordação, quiseram levar-lhe a confirmação dos seus sentimentos afetivos ou uma rebelde lágrima de reconhecimento.

A iniciativa da colocação da lápide, embora patrocinada e secundada pela Liga dos Combatentes da Grande Guerra e por alguns companheiros de armas do Capitão Dias, deve-se também ao seu camarada nos campos de batalha, o Dr. Alfredo Augusto Filipe, antigo Governador da Guarda, sempre fiel a uma amizade que se mostrou grande e constante para além da vida.

Esses mesmos sentimentos, que os aproximaram e uniram, ficaram bem evidenciados nas palavras repassadas que o Dr. Alfredo Filipe proferiu no momento em que a netinha do Dr. António Dias – a Ana Eugénia – ridente bruxulear de esperanças que eram o enlevo de seu avô, desprendeu a bandeira nacional que cobria a lápide evocativa.

Referiu em termos que a todos impressionaram as afinidades que os haviam irmanado nas horas trágicas vividas em Campanha e no cativeiro em terras germânicas, para vincar, por fim, em traços perfeitos, os predicados que impunham o homem e o militar.

O professor Sr. Francisco Mendes Póvoas enalteceu o espírito bairrista e o acrisolado amor do Capitão Dr. António Dias à sua terra e à região, a que se devotou inteiramente, esquecendo-se quase dos seus próprios problemas e de si próprio para se consagrar a uma esforçada cruzada de engrandecimento do Concelho, que em parte ficou como um grande sonho e que continua a viver nos anseios de todos nós.

António de Castro Aragão, camarada das lides jornalísticas cujo objetivo era sempre inspirado no mesmo fervor, pôs em relevo os sentimentos de lealdade e o alto sentido humano que dominava as suas atitudes do distinto oficial, a firmeza da sua dedicação, a grandeza moral e a sinceridade quase romântica que estava na base de todos os seus actos da sua vida.

E concluiu, mais do que com as palavras, que a figura varonil do Dr. António Dias, deve ser relembrada no íntimo da nossa sensibilidade e do nosso espírito, deixando junto dele o coração em saudade e levando o seu nobre exemplo para a luta de todos os dias na saudade que não se extingue.

Por fim, o Sr. Vice-Presidente da Câmara, em nome do município, aludiu às admiráveis qualidades que exornavam a personalidade do Capitão Dr. António Dias e exortou os presentes a sentirem com ele o mesmo patriotismo, o mesmo acrisolado amor à sua terra e a mesma fé e crença que tornaram grande a lição da sua vida.

Em nome da família, profundamente comovido, a todos agradeceu o director de “A Voz da Serra”.

Entre a assistência contavam-se alguns combatentes da 1ª Grande Guerra e deputações dos Bombeiros voluntários, Banda de Música, Mocidade Portuguesa, Escuteiros e Seia Futebol Clube, em merecido e devido preito por quem tanto labutou e consumiu energias em prol da Nossa Terra.”
António Dias faleceu em Lisboa a 22 de Abril de 1958. Foi condecorado com a Cruz de Guerra, sendo oficial da ordem de Aviz e possuindo as medalhas da Vitória e de Comportamento Exemplar e de Bons Serviços. Está sepultado na sua terra natal, junto dos seus, para onde regressou para o seu descanso eterno.

Informação Adicional

Autor - Relator
Margarida Portela
Testemunha - Contador
Luís Jerónimo

Intervenientes

 

Nome
António Dias
Cargo
Capitão

Teatros de Guerra

 

Teatros de Guerra
França

Direitos e Divulgação

 

Entidade detentora de direitos
Instituto de Historia Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova Lisboa – Portugal
Tipo de direitos
Todos os direitos reservados
Link para acesso externo
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