A guerra a preto e branco com alguma cor - Porfírio Hipólito Azevedo da Fonseca na Grande Guerra

Da sua presença na Grande Guerra pouco se sabe. Victor Neto desconhece as andanças do padrinho da sua esposa, Porfírio Hipólito Azevedo da Fonseca, que ainda chegou a conhecer. Apenas sabe que o mesmo esteve em França e que de lá voltou como tantos outros, um pouco doente, tendo sobrevivido a um conflito que ceifaria a vida a tantos combatentes, durante os  anos de 1917 a 1919 e até mesmo depois. Contudo, guardaram-se na família os seus desenhos, que Porfírio Hipólito viria a fazer depois da guerra, logo a partir de 1919, com base nas suas memórias – e quiçá em algum caderno de esquiços. Nestes podemos contemplar de peças de artilharia a vistas da Terra de Ninguém, passando pelos desenhos de prisioneiros alemães, magros e de olhar esgazeado. Memórias de um conflito que afectou física e emocionalmente todos os «lados da barricada».

O percurso político e militar de Porfírio Hipólito Azevedo da Fonseca depois da guerra levá-lo-á a receber a mercê do Grau de Cavaleiro da Ordem Militar de Cristo (1927), a fazer parte da polícia de Lisboa, a escrever obras várias sobre o policiamento - e o desenho policial! - e a alcançar a patente de Coronel. Contudo, os anos da Grande Guerra são uma incógnita, devotados ao esquecimento, numa personagem que se movimentaria dentro dos círculos militares e sociais da Capital, sem nunca ser referido como combatente português na Grande Conflagração. Essa é a nossa proposta. Analisar e retirar ao esquecimento o seu percurso naqueles anos, registados posteriormente em imagens e recordados num mapa de grandes dimensões, que Porfírio Hipólito traria de França. 

Porfírio Hipólito, casado, residente no concelho de Oliveira do Hospital mas natural de Valença do Minho, partiria para França em 25 de Julho de 1917, enquanto alferes miliciano. Tudo estava preparado para que fizesse parte da 1ª Bateria do 4º Grupo de Metralhadoras do Corpo Expedicionário Português. Terá permanecido com os seus camaradas, com os quais efectuaria instrução, até entrar em linha a 9 de Dezembro de 1917. 

A 9 de Abril de 1918 a 4º Grupo de Metralhadoras, com todas as suas baterias, encontrava-se em Laventie. Tomando parte da batalha de La Lys, Porfírio Hipólitobaixaria à Ambulância nº 4 naquele mesmo dia. Ambulância essa que, com uma coluna de hospitalização, constituiria o Hospital de Sangue nº 1, onde ficaria por alguns dias. Seria então transferido para a Base, para um depósito de convalescentes, por forma a continuar o seu tratamento no Posto de Socorros da Base. Não aparentava necessidade de internamento nos hospitais da rectaguarda, mas depreendemos que seria necessário recobro, para recuperar do problema de saúde que apresentava, possivelmente envenenamento gasoso, conjuntamente com problemas como astenia muscular e cansaço extremo, habituais em todas as unidades militares, e muito em especial em unidades como a sua, expostas a intensos períodos de bombardeamento.

Seria apresentado então a Junta Médica e obteria licença de 30 dias a partir de 7 de Maio, e a qual deveria ser passada em Portugal. Uma vez em território nacional, e não se encontrando melhor de saúde, apresenta-se ao Hospital Militar de Lisboa para ser avaliado. Victor Neto recorda-se que o combatente referia ter vindo doente de França. Assim foi determinado, visto que em 17 de Julho de 1918, uma junta médica hospitalar lhe concede mais 30 dias de licença para tratamento, sendo a informação enviada a França pelo Quartel-general Territorial, situado em Lisboa.

Como o problema de saúde permanecia, uma junta de inspecção especial, reunida desta vez no Quartel-general Territorial, decretará em sessão de 21 de Agosto de 1918 que o alferes se encontrava ainda doente, e concede-lhe uma extensão de 30 dias ao tempo de licença caducado, para continuar o seu tratamento.

Não voltaria a França, pois acabaria por ser determinado que não seria necessário, pelo que, antes de passar aos quadros da G.N.R., viria a ser colocado no 2º batalhão do Regimento de Infantaria nº 16, pertencendo ao Corpo de Tropas de Guarnição da cidade de Lisboa.

A guerra acabaria por transformar este alferes miliciano num militar de carreira, entrando o mesmo para a Guarda Nacional Republicana em 30 de Setembro de 1918. Da guerra pouco ou nada falava. Com essa ausência de palavras, e apenas com algumas pequenas alusões aos seus problemas de saúde, trazidos do Front como tantos outros combatentes, por causa do choque, dos gases e das condições de vida na frente de batalha, quase esqueceríamos a participação de Porfírio Hipólito na Grande Conflagração. Não fosse sabermos o quanto a guerra marca a memória, mesmo quando um combatente não fala… E vermos nos seus desenhos como, nos anos que se seguiram à guerra, Porfírio Hipólito fez tudo menos olvidar, preferindo sim recordar através da arte e da expressão artística da sua memória. 

Informação Adicional

Autor - Relator
Margarida Portela
Testemunha - Contador
Victor Neto

Intervenientes

 

Nome
Porfírio Hipólito Azevedo da Fonseca
Cargo
Alferes

Teatros de Guerra

 

Teatros de Guerra
França

Mais informações

 

Data do início da história
1917
Data do fim da história
1919

Direitos e Divulgação

 

Entidade detentora de direitos
Instituto de Historia Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova Lisboa – Portugal
Tipo de direitos
Todos os direitos reservados
Link para acesso externo
http://www.portugal1914.org/portal/pt/memorias/historias/item/7636-a-guerra-a-preto-e-branco-com-alguma-cor-porfirio-hipolito-azevedo-da-fonseca-na-grande-guerra

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