Quando se semeava o milho na terra de ”cascomba" – o regresso a casa de Manuel Lopes Pereira

Manuel Lopes Pereira nasceu a 5 de Junho de 1893 em Covelo do Gerês, filho de Manuel Joaquim Lopes Pereira e de Carolina Rosa Gonçalves Forja. Viria a falecer, muitos anos depois, em Pisões, a 24 de Junho de 1990, com avançada idade (97 anos) e longas memórias de vida.
Segundo Manuel Miranda, seu neto, um dos seus maiores orgulhos encontrava-se na sua participação no conflito que agora se denomina Primeira Guerra Mundial, tendo estado em Angola e França, onde foi sempre soldado de mérito, comprovado pela sua dupla condecoração, com medalhas de cobre que atestam operações no sul de Angola, e a sua presença em França, combatendo contra os Alemães em La Lys.
Nascido em 1893, assentou praça a 24 de Julho de 1913, tendo sido incorporado no Regimento de Infantaria nº 19, em Chaves, aonde foi igualmente incorporado o seu irmão. A sua folha de matrícula, levantada por seu neto, refere que Manuel Lopes foi incorporado no 2º Batalhão em 14 de Janeiro de 1914, estando pronto da Instrução de Recrutas a 30 de Abril do mesmo ano. Jurou Bandeira e passou para o 5º Batalhão, meses depois, a 24 de Janeiro de 1915. Partiu para Angola em 3 de Fevereiro de 1915, desembarcado em Moçâmedes no dia 23. Da sua estadia ali pouco se sabe. No entanto Manuel Miranda ouviu a história de que, quando em Moçâmedes, mais para o interior, para além dos ataques possíveis dos alemães, muito se temia a falta de água, o calor intenso e a sede. A sede era tanta que, um dia, Manuel Lopes diz ter encontrado líquido… Dentro dos excrementos de um animal de grande porte. E terá sido esse o líquido que bebeu! Sabemos depois que embarcou de regresso à Metrópole a 30 de Setembro de 1915, desembarcando em Lisboa a 15 de Outubro e sendo licenciado a 26 de Fevereiro de 1916.
Teve uma passagem administrativa ao 2º Batalhão em 20 de Novembro de 1916 e casou, nesse mesmo mês, no dia 26, em Covêlo do Gerês, sendo sua esposa Lucinda Rosa Miranda, com o qual teve 10 filhos. Foi entretanto condecorado com a medalha de Cobre, a 18 de Janeiro de 1917, pelas operações em África, no Sul de Angola.
A guerra na França precisava entretanto de mais homens. Foi novamente chamado à guerra em 1917, sendo incorporado no C.E.P. em 11 de Março daquele ano. Embarcou para França em 15 de Maio de 1917, agregado ao 2º Depósito de Infantaria. Desembarcou em França em 31 de Maio de 1917, onde esteve até ao seu regresso, a 28 de Fevereiro de 1919. Foi licenciado a 22 de Junho de 1919, pela segunda vez, sem que tivesse que retornar de novo à guerra, mas trazendo com ele o orgulho de ter estado na frente de batalha e em La Lys. Em 26 de Outubro de 1922 apresentou-se ainda no seu quartel, para ser condecorado com a medalha da Vitória.
Aquando do seu regresso a casa, os relatos dizem que chegou à sua aldeia, Covelo do Gerês, quando se semeava o milho na terra de ”cascomba”. Seu irmão regressaria algum tempo depois, quando já se cortava esse mesmo milho.
Depois da guerra foi sempre agricultor, vivendo em Covelo e trabalhando as suas propriedades, de onde tirava, não sem dificuldades, o rendimento que lhe permitia sustentar a família. Tinha dois filhos com deficiência, um deles surdo-mudo, de seu nome Joaquim, e outro, a filha Júlia, que não era inteiramente surda-muda, mas quase, vendo igualmente muito mal. Faleceu na casa de sua filha, mãe de Manuel Miranda, que se recorda com muito carinho e orgulho deste pequeno grande homem (tinha apenas 1.60m), que refere ter sido um herói que deu tudo pela Pátria, sem nada receber em troca. Manuel Lopes Pereira foi, depois da guerra, um dos muitos esquecidos pelas autoridades, abandonado á sua sorte, sem que lhe tenham alguma vez providenciaram qualquer tipo de melhoria na sua vida, uma vida dura e difícil, como o não fizeram com tantos outros combatentes por Portugal.

Informação Adicional

Autor - Relator
Margarida Portela
Testemunha - Contador
Manuel Miranda

Intervenientes

 

Nome
Manuel Lopes Pereira
Cargo
Soldado

Teatros de Guerra

 

Teatros de Guerra
África; França

Mais informações

 

Data do início da história
1914
Data do fim da história
1918

Direitos e Divulgação

 

Entidade detentora de direitos
Instituto de Historia Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova Lisboa – Portugal
Tipo de direitos
Todos os direitos reservados
Link para acesso externo
http://portugal1914.org/portal/pt/memorias/historias/item/6990-quando-se-semeava-o-milho-na-terra-de-cascomba-o-regresso-a-casa-de-manuel-lopes-pereira

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