Os Atiradores de 1ª Classe do Corpo Expedicionário Português

 
Pouco tempo após as primeiras tropas portuguesas terem ocupado posições na 1ª linha das trincheiras na Flandres, foram visitados por uma equipa de observadores britânicos[1] com a missão de confirmar os relatos que chegavam ao Comando do 1º Exército, relativos ao elevado número de ataques de snipers alemães na zona portuguesa e para quantificar a liberdade de actuação e eficácia desses mesmos ataques.
 
 
Refira-se que esta mesma situação já tinha sido observada anteriormente nas linhas britânicas antes do aparecimento de atiradores especiais no exército, os quais passaram a combater os alemães de igual para igual e a restringir a sua capacidade de actuação.  
 
Esta especialidade foi desenvolvida pelo Major Hesketh Vernon Hesketh-Prichard que criou as contramedidas necessárias ao implementar a escola de observadores e atiradores, com base no Castelo de Hardelot em Pas-de-Calais, conhecida como First Army Scouting, Observation and Sniping School – 1ª Army S.O.S. School. Este curso consistia numa instrução especializada em técnicas de observação e tiro durante duas semanas[2]
 
 
À Escola de Scouting, Observation and Sniping foram adstritos dois oficiais portugueses a título permanente, que contribuíram para o posterior estabelecimento de quatro cursos de atiradores especiais para o Corpo Expedicionário Português. Cada um desses cursos de formação reuniu em geral oito oficiais e quarenta praças para instrução[3].
 
 
É de referir que para os militares portugueses existiu a dificuldade de se depararem com um armamento pessoal totalmente novo, uma vez que o seu equipamento standard era a espingarda Mauser. Existiu, ainda, o problema da língua que obrigava à utilização de intérpretes, já que raramente se encontrava entre os instruendos um que falasse inglês, e por último, como refere o Major Hesketh-Prichard, o exército português ainda não tinha implementado a utilização de miras telescópicas e adquirido o hábito de camuflagem[4].
 
Apesar de todas estas vicissitudes, tanto o General Ferreira Martins como a do Major Hesketh-Prichard referem em trabalhos publicados[5] que os militares portugueses eram detentores de boa capacidade de adaptação para a execução de missões de observação e de sniper.
 
 
O General Ferreira Martins a título de exemplo refere que de 32 praças incorporadas no curso de Janeiro de 1918, curso geral de praças britânicas e portuguesas, as praças portugueses obtiveram o 2º, 4º e 5º lugar da classificação final e que inclusive o último lugar pertenceu aos britânicos[6] e o Major Hesketh-Prichard refere que num exercício de demonstração de tiro efectuado por oito atiradores especiais portugueses, perante um conjunto de visitantes que reunia oficiais superiores portugueses e britânicos, estes conseguiram frente a alvos constituídos por cabeças de bonecos (dummy heads) expostas durante seis segundos a 180m (200 yards) acertar 32 vezes em 40 disparos, o que representou 208 pontos em 224 possíveis, demonstração cabal da boa capacidade de adaptação ao armamento britânico e ao tiro com telescópio[7].
 
 
[1]HESKETH-PRICHARD(1920), p.68
[2] MARTINS(1934), p. 228
[3]HESKETH-PRICHARD(1920), p.184
[4]HESKETH-PRICHARD(1920), p.186
[5] Portugal na Grande Guerra de Ferreira Martins e Sniping in France de Hesketh-Prichard  
[6] MARTINS(1934), p. 229
[7]HESKETH-PRICHARD(1920), p.186
 
Bibliografia

HESKETH-PRICHARD, Hesketh Vernon (1920), Sniping in France; with Notes on the Scientific Training of Scouts, Observers, and Snipers. London, Hutchinson & Co.

Imperial War Museum  Collections and Research [online], disponível em <http://www.iwm.org.uk/collections-research> [Consulta em 12/10/2013]

MARTINS, Ferreira (1934),  Portugal na Grande Guerra, Vol. I, Lisboa, 1º ed., Empresa Editorial Ática.

With the Portuguese Expeditionary Force in France (1917), [Filme IWM 411, Arquivos do Imperial War Museum], Grã-Bretanha, War Office Cinema Committee; Topical Film Company,  disponível em <http://film.iwmcollections.org.uk/record/index/47266/3108> [Consulta em 28/09/2013] 
 
Carlos Alves Lopes (IHC)
 
Imagem - legenda:
 
Legenda: Atirador português na 1ª Army S.O.S. School
Data: Junho de 1917
Fotógrafo: Desconhecido, Castelo de Hardelot em Pas-de-Calais (França)
Arquivo: With the Portuguese Expeditionary Force in France (1917), [Filme IWM 411, Arquivos do Imperial War Museum], Grã-Bretanha, War Office Cinema Committee; Topical Film Company 
Fonte: Cópia da frame (00:06:10)  

Cite como: Carlos Alves Lopes, "Os Atiradores de 1ª Classe do Corpo Expedicionário Português", A Guerra de 1914 - 1918, www.portugal1914.org


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