Francisca Pires, aluna do 9º Ano na Escola Básica e Secundária Passos Manuel recorda a história da Mulher Portuguesa durante a Grande Guerra

Francisca Pires, aluna na Escola Básica e Secundária Passos Manuel em Lisboa, perguntou-se um dia sobre qual o papel da Mulher Portuguesa na Primeira Guerra Mundial. Com a pergunta nasceria este trabalho para a disciplina de História do 9º ano, em que se decidiu dar respostas às ânsias de saber e conhecimento que tinha. 

A vida é assim. Os nossos alunos começam já a reflectir sobre as problemáticas de um confito que, em Portugal, era substancialmente desconhecido há 2 anos. Orgulhamo-nos da Francisca Pires pelo seu trabalho, que aqui reproduzimos. Orgulhamo-nos de saber que, com outras instituições, autarquias, escolas, estamos a formar o futuro de um País mais esclarecido, mais conhecedor da sua história e dos seus valores históricos. Há por este país mais pequenas Franciscas. Nas escolas, nos agrupamentos, jovens que se questionam sobre o que nós já nos perguntámos e continuamos a perguntar, ao longo destes anos: o que sucedeu em Portugal durante a Grande Guerra? No Instituto de História Contempoânea (IHC) continuaremos sempre a trabalhar com os jovens, pois deles é o futuro de Portugal. Parabéns Francisca!



A Mulher Portuguesa na 1ª Grande Guerra

Indice

Introdução
As associações de apoio aos prisioneiros portugueses
-Como começaram
-Cruzada das mulheres portuguesas
-A Comissão Protectora dos Prisioneiros de Guerra Portugueses
-Comissão feminina "Pela Pátria"
-Comissão Feminina de Auxílio ao Soldado Português
-Assistência das Portuguesas às Vítimas da Guerra

Bibliografia

Introdução


O papel das mulheres portuguesas na Primeira Grande Guerra foi muito importante, pois sem o seu apoio muito mais portugueses teriam morrido prisioneiros na Alemanha e muitos mais teriam enlouquecido.

As mães, esposas, irmãs e filhas de combatentes organizaram-se e criaram diversas comissões, comités e cruzadas de apoio aos prisioneiros e feridos de guerra, não descansaram enquanto não os troxeram para casa para junto da familia onde era o lugar deles e de onde nunca deviam ter saído.

Cruzada das Mulheres Portuguesas


A Cruzada das Mulheres Portuguesas foi criada a 20 de Março de 1916, por iniciativa de um grupo de mulheres, presidido por Elzira Dantas Machado (mulher do então Presidente da República, Bernardino Machado), e pouco depois reconhecida como uma sociedade de socorros voluntários, ficando autorizada a levantar, transportar e tratar os feridos e doentes, assim como organizar e administrar estabelecimentos sanitários, sendo equiparada a auxiliar dos serviços de saúde do exército.

Foi fundada para prestar "assistência moral e material aos que dela necessitassem por motivo da guerra com a Alemanha", e ficou responsável pela organização, em 1917, de cursos de preparação de enfermeiras para os hospitais militares do País e da frente europeia. Também foi responsável por um grande número de iniciativas durante a I Guerra Mundial, desde a assistência às famílias dos mobilizados ao auxílio aos prisioneiros de guerra, conheceu uma grande expansão, com núcleos locais nas principais cidades e vilas portuguesas.

Para além disto, as suas sócias também recolheram roupas, agasalhos, tabaco, jornais e livros que encaminharam para o já Comité de Socorro aos Militares e Civis Prisioneiros de Guerra que, através da Cruz Vermelha, os enviavam para os portugueses detidos na Alemanha. A Cruzada deu também apoio às famílias destes militares, ajudando-as a empacotar os bens (que muitas vezes não chegavam ao destino por não respeitarem as regras quanto ao peso e ao tipo de material enviado), a ultrapassar dificuldades colocadas pelos serviços do Estado e a arranjar soluções para as famílias carenciadas. As Madrinhas de Guerra, instituição da Cruzada, davam ânimo aos prisioneiros através das suas cartas.

A Cruzada das Mulheres Portuguesas foi condecorada, a 14 de Maio de 1918, com a Grã-Cruz da Ordem da Torre e Espada, de Valor, Lealdade e Mérito, pelos serviços prestados durante o período em que Portugal participou na Grande Guerra.

Os embaixadores e cônsules portugueses estiveram sempre atentos à situação dos prisioneiros, denunciando as dificuldades que enfrentavam e ajudando-os.

Foram os diplomatas que estiveram na origem do Comité de Socorros aos Militares e Civis Portugueses Prisioneiros de Guerra, fundado a 18 de Fevereiro de 1917.

Entre Março de 1917 e Março de 1918, este Comité distribuiu 300 cartas entre os prisioneiros e as respectivas famílias e promoveu bailes e saraus para angariação de fundos para a compra de roupa e alimentos que eram enviados aos prisioneiros.

Os membros do Comité conseguiram mobilizar para a sua causa a comunidade portuguesa residente na Suíça, bem como cidadãos de outras nacionalidades. 

Entretanto, em Portugal, grupos de mulheres começaram a juntar-se à causa.

Em Lisboa, um grupo de senhoras organizou-se para angariar donativos para o Comité de Socorros aos Militares e Civis Portugueses Prisioneiros de Guerra.

Esse grupo era constituido por Maria Lueith de Miranda Neto, Maria Palmira Diogo da Silva, Alice Barosa Neto, Maria Eugénia Diogo da Silva, Eduarda Monteiro Santos, Mary Torras Joly, Maria Isabel Santos Silva, Virgínia dos Reis Joly, Henriqueta Maria Alves Crespo Ferreira, Eugénia Guerra Quinhones e Laura Vieira Campos, e funcionava no número 2 da Rua António Pedro, no Campo Grande,

Comissão Protectora dos Prisioneiros de Guerra Portugueses

Lívia Magalhães Coutinho Fachada, mulher do alferes equiparado do serviço postal João Augusto Fachada, “dolorosamente preocupada com a forma pouco humana porque ele será tratado”, envia uma carta ao jornal O Século, em Junho de 1918, dirigida a todas as “mães, esposas e irmãs”, pedindo que se reunissem “quanto antes […] para estudarem a melhor maneira de representar superiormente sobre a permuta de uns, o internamento, em país neutro, daqueles que se encontram feridos ou doentes, em suma, sobre os meios possíveis de suavizar a sorte de todos os nossos infelizes irmãos combatentes e não combatentes, em poder dos alemães, que são incapazes de corresponderem aos sentimentos humanitários, às grandes deferências mesmo com que tratamos os seus internados”.
Lívia Fachada sugere que a reunião se realize no salão da revista Ilustração Portuguesa, e na edição do dia seguinte, o jornal escreve que o apelo feito por Lívia Fachada “despertou vivo interesse”e informa que o primeiro encontro se deverá realizar “na quinta-feira que vem, às 18 horas e meia, no salão da Ilustração Portuguesa”. 

Ao apelo responderam inúmeras esposas, mãe, filhas e irmãs de prisioneiros e a primeira reunião da futura Comissão Protectora dos Prisioneiros de Guerra Portugueses veio a realizar-se no dia 13 de Junho de 1918, no salão da revista. 

2ª - Civis: Lívia de Magalhães Coutinho Fachada e Isabel Mourão d’Almeida;

3ª - Sargentos: Balbina Amaral Fernandes, Armelinda Vicente, Maria José Cardosa d’Oliveira e Margarida Pereira Grave;

4ª - Cabos e soldados: Matilde Graça Prosper, Eugénia Conceição, Josefa dos Santos, Carlota Macedo, Joana Maria Gonçalves e Margarida Marques.

Esta comissão, teve, como primeira missão, de redigir uma carta para o presidente da república, a qual solicitava que diligenciasse no sentido de conseguir, por troca ou internamento em país neutro (no caso de não estarem em condições de saúde de realizar tão longa viagem de regresso a casa), o repatriamento dos prisioneiros portugueses. O documento deveria ser assinado pelo maior número possível de mulheres familiares desses prisioneiros militares e civis.

3º - Serviço de Informações: Branca Moreira Lopes (presidente), Hero Ofélia Guimarães Costa Cabral (1ª secretária), Maria Tenório Parreira (2ª secretária), Irene Djalmo Brandão de Azevedo, Ermelinda Fernandes, Tereza Nazaré Santos, Maria Marques das Neves e Matilde Graça Prosper.

Nessa mesma reunião foi aprovada uma proposta de Lívia Fachada quanto às prioridades da Comissão: 
1 - Solicitar ao secretário de Estado da Guerra que as famílias dos prisioneiros continuassem a receber os vencimentos por inteiro; 
2 - Solicitar ao mesmo governante apoio para o envio, com a maior urgência, das roupas que se encontravam armazenadas na comissão de beneficência dos prisioneiros: 
3 - Solicitar que o secretário de Estado da Guerra desse despacho aos vencimentos estipulados pelo ministro da Guerra, Norton de Matos, para serem enviados aos prisioneiros.

Além do apoio do jornal O Século, e consequentemente da Ilustração Portuguesa, a Comissão Protectora dos Prisioneiros de Guerra Portugueses contou também com o auxílio do Diário de Notícias. A partir de Agosto de 1918, o DN publicou quase diariamente informação sobre o trabalho da Comissão. O jornal abriu mesmo uma subscrição a favor dos prisioneiros, para a qual contribuíram inúmeros cidadãos, empresas e estabelecimentos comerciais. A própria empresa proprietária do Diário de Notícias doou com 150$00.

No Gerês, na Cúria, em Melgaço, nas praias do Baleal, da Trafaria e das Maçãs realizaram-se saraus, muitos deles promovidos por grupos de mulheres, que contaram com o auxílio de vários veraneantes e de habitantes locais. Podemos afirmar, sem exagero, que a sociedade portuguesa se mobilizou em peso para minorar o sofrimento dos prisioneiros de guerra na Alemanha.

A Comissão agradeceu as múltiplas iniciativas que se realizaram com o intuito de angariar roupa e donativos a favor dos prisioneiros, mas fez saber publicamente que não era seu objectivo encarregar-se directamente destes assuntos, nem organizar saraus, quermesses ou bailes com esses fins. O dinheiro angariado através das subscrições, ou directamente oferecido à Comissão, era entregue à empresa proprietária do jornal O Século, entidade que suportava as despesas de funcionamento da organização. As roupas eram empacotadas e enviadas para a Alemanha através da Cruz Vermelha.

Mais tarde, novamente reunida no salão da Ilustração Portuguesa, a Comissão Protectora dos Prisioneiros de Guerra Portugueses decide criar três grupos de trabalho:
1º - Direcção especial dos serviços: Lívia Magalhães Coutinho Fachada (presidente), Laura das Dores Costa, Vitória Baptista de Sousa Ribeiro Gomes, Olinda Campos de Andrade, Isabel Morão de Almeida, Maria Clementina Guerreiro, Palmira Alezo Belo e Margarida Mateus Bernardo; 
2º - Propaganda: Maria del Pilar Santos Nogueira (presidente), Maria Carlota de Carvalho Marques (secretária), Raquel Guerreiro Cabeçadas, Izilda da Costa Cabral, Alice Couceiro Feio e Izilda Parreira; 

A prioridade da Comissão era conseguir com que os seus familiares regressassem a casa o mais breve possível. Uma semana depois de ter sido formalmente constituída a Comissão, tinha já sido redigida a mensagem a apresentar ao presidente da República e enviadas cópias para O Século em Lisboa e para os representantes do jornal na província para serem assinadas por mulheres que tivessem familiares prisioneiros na Alemanha.

No dia 13 de Agosto de 1918, as senhoras da Comissão foram recebidas pelo Presidente da República na sua residência, em Sintra. Sidónio Pais recebeu a mensagem que transportavam juntamente com as listas de assinaturas e “mostrou o vivo e sincero interesse” pelas pretensões das famílias dos militares detidos “a favor dos que preferiam mil vezes ter sacrificado a sua vida à Pátria a caírem vivos nas mãos do inimigo”.

Aproveitaram a oportunidade para também solicitar ao presidente da República que diligenciasse “junto do governo a organização de um serviço especial por conta do Estado, com delegação na Suíça, desempenhado por pessoas de toda a competência e também por algumas vogais da Comissão, para assegurar e facilitar as relações entre prisioneiros e suas famílias, quanto à troca de correspondência e remessa de encomendas”.

Tentaram também resolver as dificuldades que as famílias dos detidos enfrentavam, principalmente a nível financeiro. Logo na primeira reunião, a mãe de João Cardoso d’Oliveira queixou-se de não lhe terem pago a totalidade da pensão a que tinha direito. Em vez dos habituais 41$10, recebeu somente 32$77, tendo sido informada de que no mês seguinte a pensão sofreria nova redução de 12$00.
Em nome desta causa, estavam dispostas a deixar as suas vidas em Portugal, talvez mesmo filhos menores, e a viajarem para a Suíça na esperança de que desta forma conseguissem mais rapidamente resolver os problemas dos prisioneiros.

1ª - Oficiais: Teresa Santos, Isilda Parreira, Raquel Guerreiro Cabeçadas, Maria Clementina Guerreiro, Maria Carlota Carvalho Marques, Isilda Costa Cabral, Laura Prado Coelho, Maria del Pilar Santos Nogueira, Olinda Viana de Andrade, Margarida Mateus Bernardo, Branca Moreira Lopes, Maria Luíza Plaça, Luíza Maria Santos Sant’ana e Alice Couceiro Feio;
Neste primeiro encontro, e sob proposta de Lívia Fachada, foi constituída uma comissão de senhoras para tratar exclusivamente dos assuntos relacionados com os prisioneiros de guerra, por sua vez subdividida em quatro secções: 

​A Comissão de Hospitalização foi organizada pela Cruzada das Mulheres Portuguesas, e estava autorizada a ​tratar os feridos e doentes, funcionando como serviço auxiliar aos serviços de saúde do exército.​ Foi reconhecida pelas autoridades oficiais como uma sociedade de socorros voluntários em 1916​.
Comissão de Hospitalização da Cruzada das Mulheres Portuguesas

​Fundada em 1914, pela iniciativa de Ana Castilho, Ana de Castro Osório, Antónia Bermudes e Maria Benedita Mouzinho de Albuquerque Pinto​, ​para prestar assistência aos soldados mobilizados​, ​​A Comissão Feminina Pela Pátria,​ foi uma das primeiras instituições organizadas em Portugal com o objectivo de mobilizar as mulheres para o esforço de guerra.

Comissão Feminina "Pela Pátria"

Comissão presidida por Margarida Bulhão Pato. Fizeram parte da mesma Irene de Sousa, Ilda de Almeida, Maria de Sousa, Irene Abrantes, Belarmina de Lemos, Felicidade Meirinho, Irene de Melo, Maria do Monte Santos, Maria Augusta Santos, Fernanda de Brito, Guilhermina Furtado, Beatriz Rodrigues, Maria Leão, M. Laura Alves, Elena Furtado, Elisa Camilleri, Martina Meirino, Alda de Sousa, Judite Alves e Isaura de Sousa.

Comissão Feminina de Auxílio ao Soldado Português

Associação feminina, ligada à aristocracia monárquica, que se constituiu com o objectivo de prestar auxílio aos militares portugueses, sobretudo do ponto de vista hospitalar.Desempenharam um papel de relevo na sua actividade mulheres como a Maria Amélia de Carvalho Burnay, Maria Josefa de Melo e Maria van Zeller. Apostou na formação de enfermeiras, contando com a colaboração técnica de Reinaldo dos Santos e Domítilia de Carvalho, contribuindo bastante para a constituição do Grupo Auxiliar das Damas Enfermeiras. Do ponto de vista assistencial, preocupava-se com o apoio às famílias dos soldados, promovendo, em 1917, a iniciativa "Venda da Flor", através da qual foi possível recolher fundos importantes.

Bibliografia

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http://www.portugal1914.org/portal/pt/historia/instituicoes/item/5205-cruzada-das-mulheres-portuguesas

http://www.revistamilitar.pt/artigo.php?art_id=699


Trabalho realizado por Francisca Pires, com a preciosa ajuda de HELENA REAL, para a disciplina de História

Para consultar o original clique aqui

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